O atendimento rápido diante de uma emergência. O acolhimento nos momentos mais difíceis. O cuidado na prevenção das doenças. Ao nascer, durante toda a existência e nas despedidas. Em cada ocasião de nossa vida, estão lá os médicos, que dedicam suas próprias vidas à preservação de outros tantos, alguns que verão uma vez, outros que acompanharão por muito tempo.
Por sua relevância, quando nos vemos diante de crises da saúde, logo surgem pedidos por mais médicos, por novas faculdades de medicina. Chamados legítimos e compreensíveis, sobretudo em um país com ainda tantas carências na assistência básica de sua população. Mas, por essa mesma diferença que possuem para a vida, apenas clamar por mais médicos é uma simplificação capaz de trazer graves prejuízos aos brasileiros.
Até atender o público, os profissionais devem passar por uma formação médica rigorosa. Além da própria graduação, devem contar com uma estrutura hospitalar que dê suporte ao seu aprendizado prático, unidades básicas de saúde e número mínimo de leitos SUS com os quais lidarão os estudantes
Esse deveria ser o modelo ideal e de excelência para a formação médica. Mas o que vemos é justamente a multiplicação do contrário: a abertura indiscriminada de escolas de qualidade duvidosa, sem condições e infraestrutura adequadas. Dado de 2019 da Organização Mundial da Saúde mostrou que o Brasil era o segundo país do mundo em número de faculdades de medicina.
E mesmo já tendo número suficiente de médicos no país, 2,2 por mil habitantes, bem acima do recomendado pela OMS, há mais de 200 cursos aguardando autorização para funcionar. Surgiu, até mesmo, a proposta de um curso exclusivo para assentados da reforma agrária, à parte do ingresso regular.
É cômodo apenas pedir por mais médicos quando não se olha o todo. Temos um sistema de saúde fragilizado, incapaz de oferecer as mínimas condições de trabalho em diversas regiões. Situação que torna mais difícil, por exemplo, atender às necessidades dos municípios mais distantes, onde faltam esses profissionais, mas também estrutura adequada, remuneração justa e até mesmo segurança jurídica.
Não se trata de questão ideológica: a preocupação das associações e sindicatos médicos é com a qualidade dos serviços prestados. Queremos que a população seja atendida por profissionais de excelência, formados seguindo os modelos adequados. Sem isso, há um risco tremendo de prejuízos à saúde de milhões de brasileiros.
Por isso, nos opusemos em diferentes ocasiões à criação de novos cursos de medicina, sejam eles de grandes grupos educacionais, sejam escolas caça-níqueis, sejam formações que atendam a interesses particulares. Pela mesma razão, nos opusemos ao exercício, no Brasil, da medicina por profissionais sem revalidação do diploma obtido no exterior.
Quando se fala em médicos, a qualidade deve prevalecer sobre a quantidade. Em vez de abrir novos cursos, devemos reforçar a fiscalização dos já existentes, inclusive com o fechamento daqueles que não atendam aos padrões. Temos, também, de resolver problemas históricos do setor, como a infraestrutura dos hospitais e das unidades básicas, adequar o financiamento e garantir condições dignas de trabalho aos trabalhadores.
O Simers, como maior sindicato médico da América Latina, representando 15 mil profissionais do Rio Grande do Sul, tem sido uma voz ativa por essas bandeiras. Uma medicina de qualidade deve estar acima de qualquer ideologia ou governo. O que está em jogo, aqui, é a saúde e a vida dos mais de 200 milhões de brasileiros. Defendê-las é nossa missão ao fazermos nosso juramento, e por elas batalharemos, seja ao cuidar de quem precisa, seja ao buscar uma formação de excelência para aqueles que se somarão a essa luta.
Dr Fernando Uberti
Secretário de Assuntos Jurídicos da FMB
Diretor do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Sul-SIMERS