Com um total de 8.090 médicos registrados para uma população de 8,3 milhões de habitantes, o estado do Pará dispõe de 0,97 médicos a cada mil habitantes, uma proporção que está dentro do que preconiza a Organização Mundial de Saúde. Mas a divisão geográfica desses profissionais, concentrados em sua maioria na capital, evidencia que o problema da saúde no Pará não é falta de médico, mas sim falta de estrutura e uma política de saúde que fixe os profissionais médicos no interior. Os números são da pesquisa Demografia Médica 2018, realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com o apoio institucional do Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Regional de Medicina de São Paulo.
Divulgada hoje pela manhã pelo CFM, a pesquisa aponta uma grande concentração destes profissionais nas regiões mais desenvolvidas, nas capitais e no litoral. Por exemplo, o Sudeste é a região com maior razão de médicos por 1.000 habitantes (2,81) contra 1,16, no Norte, e 1,41, no Nordeste. Somente o estado de São Paulo concentra 21,7% da população e 28% do total de médicos do País.
No Pará, apesar da proporção de quase um médico para cada 1000 habitantes, 70% dos profissionais se concentra na capital. Belém detém uma estatística de 3,90 médicos por cada 1000 habitantes, realidade que se repete na maior parte dos estados da região Norte do País. O Amazonas é o estado onde essa distorção é mais evidente.
Do total de 4.844 médicos do Amazonas, 4.508 estão na capital e 336 (6,9%) atendem em 62 municípios.
Para o diretor João Gouveia, a razão médicos/ mil habitantes no Brasil está de acordo com o que é preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “Os números provam, mais uma vez, que o problema não está na quantidade de médicos, e sim na distribuição dos mesmos”.
O diretor afirma que um dos fatores responsáveis pela alta concentração de médicos nas capitais e regiões mais desenvolvidas é a falta de políticas de saúde sérias que fixem o médico no interior do estado, falta de condições adequadas de trabalho e do Plano de Cargos e Carreira para que o médico tenha progressão na sua carreira e chegue depois à capita. “Se já temos dificuldade muito grande na capital em relação a condições de trabalho, no interior a situação é muito pior, tanto em termos de instalações, materiais, medicamentos e equipamentos”, conclui.
Para o diretor Wilson Machado, a pesquisa Demografia Médica 2018 veio confirmar que o problema na área da saúde brasileira não é, propriamente, a falta de médicos nos municípios distantes da capital, e sim a falta de condições de trabalho, do Plano de Cargos e Carreiras e o não incentivo à aquisição de conhecimentos técnicos e científicos nessas localidades.
O CFM compartilha da mesma opinião do Sindmepa quando se trata da razão médicos por mil habitantes. Para eles, “os números apresentados confirmam o equívoco do Governo, que tem defendido o aumento da população de médicos como solução para resolver as dificuldades de acesso aos serviços de saúde no País”.
Entidades avaliam ainda que mesmo nos estados e municípios em que existem a presença significativa de médicos, somente isso não tem sido suficiente para eliminar problemas graves de funcionamento da rede pública e de acesso aos serviços, decorrentes da falta de qualidade na gestão e da adoção de políticas públicas eficientes no setor.
Fonte: Sindmepa