A medicina avançou muito nos últimos anos, a ponto de permitir que as mulheres possam adiar o sonho da maternidade, seja para focar antes na carreira, por que passarão por quimio ou radioterapia ou mesmo por outras questões pessoais. Porém, o tempo da fertilidade feminina é curto, e a solução pode ser o congelamento de óvulos, ainda fora do alcance para a maioria da população. O procedimento não está disponível na rede pública nem é coberto por planos de saúde.
Para quem se dispõe a fazer o investimento, a ginecologista e especialista em reprodução humana Rafaella Petracco, alerta que, embora possa se adiar a maternidade, quanto antes se fizer esse planejamento, mais chances de sucesso numa futura gravidez. Tire suas dúvidas:
Existe idade limite para congelar óvulos?
“A maioria das mulheres que procuram tratamento já está na faixa dos 40 anos. Não existe limite de idade para congelar óvulos, mas a partir dos 35 anos há uma diminuição muito grande na fertilidade. Aos 30 anos a paciente ainda não tem essa pressa, mas se congelar esse óvulo jovem, terá mais chance de ele se tornar um embrião”, explica a ginecologista. Quanto mais tarde, pior a qualidade e menor a quantidade dos óvulos. Além de dificultar as possibilidades de gravidez, a idade avançada do óvulo aumenta a chance de doenças genéticas no bebê.
Como é o procedimento?
Ao procurar uma clínica de fertilização, a primeira etapa será avaliar a reserva de óvulos da mulher, através de exames de sangue e ecografia transvaginal. “Com esses resultados, orientamos o melhor caminho, de acordo com a fisiologia. O processo é individualizado, o que muda é a estimulação do ovário, que se dá através de medicamentos, com hormônios, por cerca de 14 dias, para que se possa ter o máximo de aproveitamento.” A retirada dos óvulos é feita em procedimento ambulatorial, por via vaginal e com sedação geral. A partir disso, embriologistas identificam óvulos maduros, que são congelados. O processo mais comum, atualmente é a vitrificação, em que as células são submetidas à baixa temperatura de forma abrupta.
A estimulação antecipa a menopausa?
“Não, o processo apenas preserva os folículos comuns daquele mês. Ao receber uma alta carga de hormônios, a mulher produz mais óvulos em um mesmo ciclo, o que nada tem a ver com menopausa”, esclarece a especialista.
Quanto tempo o óvulo pode ficar congelado?
Não existe um tempo limite, pois o congelamento preserva as características do óvulo. Mas é preciso ficar atenta para não perder o tempo do próprio corpo para enfrentar a gestação. “Existia uma recomendação do CFM até o ano passado de limitar aos 50 anos a fertilização. Hoje, é individualizado, mas em geral tentamos não passar dessa idade, para evitar risco obstétrico. Mas se a paciente é saudável e não apresenta fatores de risco, não tem contraindicação.” Outra questão é o custo da manutenção nos poucos locais que fazem esse armazenamento. “Daqui a pouco pode não haver mais espaço físico para guardar tantas células não utilizadas.”
O que fazer se não quiser mais guardar os óvulos congelados?
“O óvulo é uma célula isolada, não foi fertilizado ainda. Então, pode ser desprezado a qualquer momento. É possível descartar ou fazer uma doação anônima. As doações são feitas de forma compartilhada, entre pacientes que passaram pelo tratamento de fertilização.” Ou seja, a mulher que abre mão dos óvulos pode cedê-los a outra que seja infértil, mas não é permitido escolher para quem doar. O processo deve ser sigiloso.
É melhor congelar óvulos ou embriões?
“Como reserva para uma gravidez tardia, não aconselhamos o congelamento de embrião, pois nunca se sabe o que vai acontecer com aquele casal até a mulher decidir engravidar”, destaca Rafaella. “Mas o óvulo já fertilizado tem mais chances de sucesso, pois já é um embrião. O congelamento de óvulos representa chance de gravidez futura entre 40 e 50% dos casos.” Por isso, recomenda-se congelar cerca de 10 óvulos. “Em alguns casos, pode-se fazer a estimulação mais de uma vez, para aumentar as chances”, diz a médica. Mas lembre-se que isso acarreta um novo custo com o procedimento.
Como preservar a fertilidade por mais tempo?
Algumas medidas podem ajudar a manter a fertilidade por mais tempo e o corpo mais apto para a gestação. “A mulher pode querer deixar para ser mãe tardiamente, mas deve buscar aconselhamento cedo. Bons hábitos de saúde ajudam a manter-se fértil, como se alimentar bem, praticar exercícios, manter o peso adequado e evitar álcool, cigarro e drogas recreativas.” Estas dicas valem, inclusive, para quem planeja uma gravidez natural.
Fonte: Simers