Duração das consultas e pressões por “produtividade”: um grave risco à Medicina
Por Dr. Marlus Volney de Morais – presidente do Sindicato dos Médicos no Estado do Paraná (Simepar) e diretor da Federação Médica Brasileira (FMB)
O Sindicato dos Médicos no Estado do Paraná (Simepar) tem recebido, com frequência cada vez maior, relatos de médicas e médicos submetidos a pressões e assédios relacionados à duração das consultas e ao volume de atendimentos. Trata-se de uma prática que ameaça não apenas a dignidade profissional, mas, sobretudo, a qualidade da assistência prestada à população.
É inadmissível que gestores, políticos ou empregadores tentem impor um modelo de “produtividade” que reduza o atendimento médico a números e estatísticas. O exercício da Medicina exige tempo, escuta e análise cuidadosa de cada caso. Pacientes idosos, pediátricos ou em primeira consulta, por exemplo, necessitam de mais atenção — não é possível padronizar esse cuidado como se fosse uma linha de produção.
O Simepar tem atuado em diversas frentes para coibir essas práticas abusivas: desde contatos e negociações com empregadores até denúncias formais ao Ministério Público, Ministério Público do Trabalho e ao Conselho Regional de Medicina (CRM-PR). Em situações mais graves, chegamos a recorrer ao Judiciário para garantir que os direitos dos profissionais sejam respeitados.
Nesse sentido, a recente Resolução nº 251/2025 do CRM-PR é um avanço decisivo. Ela reafirma que não cabe fixar tempo mínimo ou máximo para consultas médicas e que a determinação deve sempre ser feita pelo julgamento clínico do médico, considerando a complexidade de cada caso. Mais que isso, a norma estabelece que qualquer imposição de metas quantitativas, que desconsidere a autonomia médica, configura infração ética.
Essa conquista não surgiu do nada: foi fruto de uma pauta levada pelo Simepar ao CRM-PR em reuniões regulares, nas quais sempre destacamos que a Medicina não pode ser reduzida a métricas de produtividade. O atendimento médico deve ter como prioridade a qualidade, e nunca a quantidade.
O Sindicato continuará vigilante, acolhendo denúncias e combatendo qualquer forma de assédio ou pressão indevida. Aos colegas médicos e médicas do Paraná, reforçamos que não estão sozinhos. Há canais institucionais para denúncia tanto no Simepar quanto no CRM-PR, e nós estamos prontos para defendê-los.
A Resolução do CRM-PR é um marco, mas é apenas o começo. Precisamos continuar firmes para que cessem de vez as tentativas de transformar o ato médico em estatística, em detrimento da saúde da população e da dignidade da profissão.