No dia 28 de fevereiro uma médica grávida com quase nove meses, e outra mãe de uma criança portadora de doença neurológica foram demitidas em duas Unidades de Pronto Atendimento em Belém.
Às vésperas do Dia Internacional da Mulher, o atual cenário da saúde no Estado mostra o total desrespeito às profissionais médicas, e que não há exceção em demissões como essas, atingindo frontalmente os direitos e a empatia. Resultado da precarização do trabalho médico e da falta de garantias mínimas para a categoria.
“Ser médico atualmente tem suas dificuldades devido ao mercado de trabalho não oferecer garantias, direitos e segurança. Ser mulher médica é uma dificuldade ainda maior, pois precisamos encontrar tempo para cuidar da família, dos filhos, marido, e ainda estudar e se esforçar para desempenhar nossa profissão com excelência, se capacitando cada dia mais. A preocupação é dobrada, sem dúvidas”, lamenta a profissional demitida via mensagem de WhatsApp, após oito meses de serviços prestados na Unidade de Saúde.
Outro grande obstáculo ao exercício da profissão é a desigualdade salarial entre médicos e médicas. De acordo com a Demografia Médica no Brasil 2023, realizada pela Associação Médica Brasileira (AMB) e a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a desigualdade de renda entre os gêneros ainda é uma realidade.
Dados obtidos por meio de declarações junto à Receita Federal referente ao ano-base 2020, mostram que as médicas brasileiras declararam rendimento médio anual 36,3% inferior aos rendimentos declarados por profissionais do sexo masculino.
“Isso está sendo combatido pelo Sindmepa através da luta por uma política de igualdade de gênero, exigindo que as empresas tomem providências urgentes. É necessário exigir medidas como: pagamento de salários iguais aos profissionais que desenvolvem as mesmas atividades; e promoção de cursos de liderança e garantias de que as médicas ocupem posições de chefia”, destaca a Diretora do Sindmepa, Nástia Irina.
Ainda segundo a Demografia, as mulheres passarão a ser maioria na medicina, já no próximo ano. Esse fenômeno da “feminização” da profissão médica já vinha sendo observado desde 2009 entre os recém-graduados, quando havia 59,5% homens e 40,5% mulheres. Em 2022 a proporção foi de 51,4% de médicos e 48,6% de médicas. Para 2024 a projeção é de que 50,2% do total de médicos no país sejam mulheres.
“Como mulher, nesses dias, temos a gratidão ao Deus de toda soberania, porém muitas frustrações e tristezas no mês de março, quando faz-se alusão ao dia da mulher. Estamos vivenciando mulheres médicas grávidas, outras com filhos pequenos, que no momento, além dos inúmeros papéis que a vida lhe impõe como mulher, estão como provedora financeira de sua casa, sendo demitidas de seus empregos de dupla jornada na região metropolitana. Data dolorosa para essa dura realidade: exploração, desigualdade, iniquidades e desrespeito com as profissionais médicas e mulheres no nosso grande Pará”, resume a Conselheira Fiscal do Sindmepa, Vilma Hutim.
Fonte: Sindmepa