Resultados de um estudo publicado nesta quarta-feira pela revista “Nature” sugerem que um transplante da mitocôndria em óvulos humanos pode evitar a transmissão materna de algumas doenças ligadas a mutações do DNA.
As variações no genoma mitocondrial são responsáveis por uma grande gama de doenças que não têm tratamento, como síndromes neurológicas e degenerativas, e afetam uma a cada cinco mil pessoas, segundo a revista. A evolução tecnológica no sequenciamento do DNA nos últimos anos permitiu identificar as causas de muitas doenças, mas os pesquisadores ainda começam a traçar estratégias para evitar a transmissão dos defeitos genéticos detectados.
Um grupo da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon (OHSU), nos Estados Unidos, deu um novo passo nesse campo ao substituir com sucesso a mitocôndria de um ovócito – precursor do óvulo – com mutações por outra de um doador saudável.
“Até agora, isto só tinha sido feito com ovócitos provenientes de doadores saudáveis. Esta é a primeira vez que se testa esta técnica com óvulos de mulheres que têm mutações em seu DNA mitocondrial“, afirmou Paula Amato, uma das autoras do trabalho, em entrevista coletiva.
O teste indica que é possível bloquear a transmissão de mutações prejudiciais de mãe para filho, graças ao tratamento de substituição mitocondrial (MRT, sigla em inglês). O estudo destaca que as chances de sucesso dessa técnica aumentam quando são selecionados doadores cujo DNA mitocondrial compartilha o mesmo grupo genético da mãe, conhecido como haplótipo.
Os cientistas comprovaram que o DNA mitocondrial da doadora saudável se impunha na maioria dos óvulos submetidos à técnica de laboratório. No entanto, 1% retornava gradualmente as mutações perigosas.
“Provamos que existe uma região no DNA mitocondrial que parece controlar a replicação, e que certos haplótipos têm vantagens na hora de se replicar. A importância deste estudo é que propomos um paradigma de coincidência (entre haplótipos) que pode aumentar a segurança desta técnica uma vez começados os testes clínicos“, descreveu Paula.
A estratégia desenvolvida na OHSU complementa o enfoque que tenta evitar a transmissão de doenças a partir da fertilização in vitro e a seleção de embriões sem mutações genéticas prejudiciais, uma técnica que nem sempre é aplicável, já que em algumas ocasiões não é possível recuperar embriões saudáveis.
Fonte: Terra