Pacientes estão sendo dispensados e cirurgias foram desmarcadas em hospitais federais, para dar conta de uma reserva de leitos para a Olimpíada 2016 no Rio de Janeiro. Mais de 130 leitos foram bloqueados. No Hospital de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio, 17 já estão bloqueados e mais quatro ainda devem ser. Os pacientes do hospital que precisam de passar por cirurgias nesses leitos, com isto, não conseguem. Leitos de hospitais do município estão sendo esvaziados e os pacientes estão sendo encaminhados para os hospitais federais.
Considerando que o estado já enfrentava um déficit expressivo, a situação na saúde pública do Rio de Janeiro pode se agravar ainda mais, avalia Júlio Noronha, que é médico do Hospital de Bonsucesso e diretor jurídico do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, em conversa com o Jornal do Brasil por telefone.
“No meio do caos, ainda se reduz mais ainda os leitos que estão à disposição. O [prefeito do Rio, Eduardo] Paes tem que fazer um decreto para proibir as pessoas de ficarem doentes na Olimpíada”, comentou Noronha.
Logo após veiculação de reportagem na Globo News alertando sobre o caso, o Ministério da Saúde enviou nota para a imprensa destacando que “não há qualquer bloqueio de leitos ou suspensão de cirurgias eletivas nos hospitais e institutos federais do Rio de Janeiro”. De acordo com a pasta, o atendimento regular está mantido, inclusive no período dos Jogos.
Noronha aponta que o atendimento regular realmente está mantido, mas os leitos estão bloqueados, sim, desde o dia 12 de julho, e que o município segue mandando pacientes para Bonsucesso e para outras unidades federais. A emergência do Hospital de Bonsucesso está lotada e não é possível internar os pacientes na unidade. “Há 21 mil doentes na fila dos hospitais federais, vai aumentar o tempo de espera no centro cirúrgico“.
Conforme apurou o JB, o defensor público federal Daniel Macedo deve peticionar o juiz responsável por uma ação que determinou que as grandes filas nos hospitais federais fossem solucionadas — o que chegou a ser cumprido. No entendimento de Macedo, caso haja efetivamente o bloqueio no atendimento de cirurgias durante os Jogos 2016, as filas ao final da Olimpíada devem ser novamente afetadas.
Para a Defensoria Pública da União no Rio de Janeiro (DPU/RJ), a reserva de leitos para megaeventos é realmente necessária, mas não pode prejudicar o atendimento em curso.
O Ministério da Saúde diz que 135 leitos de retaguarda disponibilizados pela pasta na rede federal do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos são para atender situações de emergência de saúde pública no período da competição, medida que também foi adotada na Copa do Mundo e na Jornada Mundial da Juventude.
“Cabe informar que os leitos de retaguarda servem justamente para deixar as unidades de saúde prontas para atender situações de emergência, estratégia comum nas unidades de porta-aberta e fundamental para a garantia do atendimento durante eventos de massa”, diz a nota do Ministério da Saúde.
Fonte: Jornal do Brasil