Dar o diagnóstico de uma doença ruim ao paciente não é tarefa fácil, mas está presente do dia a dia do médico. O dom de dar essa notícia vai além do conhecimento técnico e específico. Geralmente, o jeito com que o diagnostico dessas doenças são ditos ao paciente pode marcá-lo para todo o tratamento. Foi o que aconteceu com Vera Fröhlich Wenzel, quando soube que estava com câncer de mama.
“Quando fui consultar com o oncologista Fernando Schuh, já desconfiava que estivesse com câncer, mas sempre tive a esperança de que o resultado fosse outro. A abordagem da doença foi uma das coisas que me marcou muito, porque ele desmistificou o câncer, nos tranquilizando. Cheguei lá pronta para receber o atestado de morte quando ele me disse que tinha 90% de chances de cura”, afirmou.
Há sete anos Vera está curada do câncer, mas jamais esqueceu a confiança que o médico lhe passou logo na primeira consulta. “Ele deixou claro que tínhamos que confiar nele, fazer o que ele mandava e esquecer as receitas caseiras. Enquanto eu estava no tratamento, fiz todos os exames que ele mandou e deu certo. Mas também descobrimos o câncer bem cedo. Admirei muito o doutor Fernando porque desde a primeira consulta ele já me deu o cartão com todos os contatos dele e disse para eu ligar para qualquer dúvida, e realmente ele sempre me atendeu.”
O câncer de mama é uma doença com grande impacto na vida da paciente tanto no aspecto físico, social, psicológico, espiritual e profissional. “Quando recebo a paciente já tenho ideia de cada um desse momento tanto na hora de ver ou confirmar o diagnostico, planejamento referente ao tratamento, cirurgia, sequela, acompanhamento até chegar à cura. Em cada fase há necessidade diferente de informação”, ressalta Fernando Schuh.
O oncologista revela seus princípios básicos ao dar um diagnóstico. “A notícia ruim deve ser dada de forma com que a paciente mantenha a esperança, mas não podemos ocultar a verdade. Tenho uma frase que sempre uso ‘tudo que for dito para a paciente deve ser verdade, mas nem toda a verdade deve ser dita’. Chamamos de mentira piedosa, para respeitar o tempo dessa paciente e suas condições emocionais, de maneira que ela receba a informação de forma positiva”.
O jeito de dar a notícia de um diagnóstico ruim foi adquirido com o passar dos anos. “Desde o tempo que me formei em mastologista acabei me envolvendo num universo com pacientes com o mesmo problema, diagnóstico, avaliação, tratamento. A gente vai percebendo o que a paciente quer ouvir e como vamos atingir isso de forma favorável. No momento do diagnóstico, aproveitamos para esclarecer o que é a doença, chances de cura, quais as opções de tratamento e avisamos que a paciente vai participar da decisão de cada uma dessas fases. Uma coisa muito importante é desafazer o mito. As pessoas trazem um preconceito sobre a doença que atrapalha ela mesma.”
“É preciso mostrar que estamos com a paciente, que ela não está sozinha, sempre alimentando esperança. Temos que abraçá-la e confortá-la porque ela se sente mais segura tendo vínculo com a equipe médica assim como o suporte familiar, que são os dois pilares de sustentação da paciente”, destaca Schuh.
Para o médico que ainda não encontrou o melhor jeito de dar a má noticia ao seu paciente, existe o Protocolo S.P.I.K.E.S (Setting Up the Interview; Perception; Invitation;Knowledge; Emotions; Strategy and Summary), procedimentos para minimizar impactos no compartilhamento de notícias desfavoráveis na relação médico paciente.
O protocolo Spikes descreve seis passos de maneira didática para comunicar más notícias. O primeiro passo (Setting up), se refere à preparação do médico e do espaço físico para o evento. O segundo (Perception), verifica até que ponto o paciente tem consciência de seu estado. O terceiro (Invitation) procura entender quanto o paciente deseja saber sobre sua doença. O quarto (Knowledge), será a transmissão da informação propriamente dita. Neste ponto, são ressaltadas algumas recomendações, como: utilizar frases introdutórias que indiquem ao paciente que más notícias virão; não fazê-lo de forma brusca ou usar palavras técnicas em excesso e checar a compreensão do paciente. O quinto passo (Emotions) é reservado para responder empaticamente à reação demonstrada pelo paciente. O sexto (Strategy and Summary), diminui a ansiedade do paciente ao lhe revelar o plano terapêutico e o que pode vir a acontecer.
Fonte: Simers