Pela primeira vez, as mulheres ultrapassaram os homens em número absoluto na profissão médica. Segundo dados do estudo Demografia Médica no Brasil 2025, elas representam 50,9% da categoria, um crescimento expressivo se comparado aos 40,5% registrados em 2009.
A tendência de feminização da medicina no Brasil acompanha o cenário mundial. Em países da OCDE, a participação feminina também já se aproxima ou supera a metade da força médica ativa. No Brasil, essa transformação começou nas salas de aula e agora se consolida no mercado. As mulheres são maioria nos cursos de medicina desde 2010 e já alcançam 62% dos estudantes matriculados.
Onde elas são maioria?
O Sudeste é a região com maior número de médicas, refletindo a própria concentração da força médica no país. Entretanto, o crescimento é nacional, com destaque para o aumento do número de mulheres em especialidades tradicionalmente masculinas e em áreas de atuação em todo o território nacional.
Algumas especialidades são majoritariamente femininas. A Dermatologia é a mais feminina de todas (80,6%), seguida por Pediatria (76,8%) e Endocrinologia (74,4%). Em contrapartida, a Urologia segue como a mais masculina, com 27,69 homens para cada mulher.
Outros dados da demografia
Apesar do crescimento no número de médicos, a distribuição permanece desigual. A região Sudeste concentra 55,4% dos médicos especialistas, seguida pelas regiões Sul (16,7%), Nordeste (14,5%), Centro-Oeste (7,5%) e Norte (5,9%) .
A razão de médicos por 1.000 habitantes varia significativamente: o Distrito Federal lidera com 6,28, enquanto o Maranhão tem a menor taxa, com 1,27 .
Diferença entre capitais e interior
O Brasil apresenta um índice médio de distribuição capital/interior (IDCI) de 3,66 — ou seja, as capitais concentram 3,66 vezes mais médicos por habitante do que o restante dos estados. Sergipe (22,53), Roraima (19,65) e Amazonas (14,26) são os estados com maior disparidade. No Sudeste e Sul, a desigualdade é menor, com São Paulo (2,52), Rio de Janeiro (2,64) e Santa Catarina (3,99) apresentando distribuições mais equilibradas.
Vitória (ES) é a capital com maior densidade médica: 18,52 médicos por 1.000 habitantes.
Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC) vêm logo depois, com 11,81 e 10,48, respectivamente.
Já Macapá (AP) e Boa Vista (RR) têm as menores densidades entre as capitais: 2,22 e 2,63 médicos por 1.000 habitantes.
Interior em desvantagem
Nos municípios com menos de 10 mil habitantes, a razão é de apenas 0,57 médicos por 1.000 pessoas. Nas cidades com até 5 mil habitantes, o índice cai para 0,51. Esses dados revelam uma escassez crítica de profissionais em áreas rurais e pequenos municípios.
Proporção de médicos por 1 mil habitantes por região, fora das capitais:
Sudeste: 2,64
Sul: 2,35
Centro-Oeste: 1,58
Nordeste: 0,95
Norte: 0,75
Formação médica e residência
O Brasil forma hoje cerca de 35 mil médicos por ano, e 60,9% dos estudantes de medicina têm até 24 anos de idade. No entanto, cresce a participação de alunos com 30 anos ou mais, que passaram de 6,4% em 2010 para 13,8% em 2023.
A Residência Médica, principal via de formação especializada, ainda enfrenta limitações estruturais. Em 2024, 19,2% das vagas de acesso direto (R1) não foram ocupadas. Os programas mais procurados são: Clínica Médica (13,6%), Pediatria (10,5%), Cirurgia Geral (9%) e Ginecologia e Obstetrícia (8,6%).
58,2% dos residentes são mulheres.
62,8% dos residentes se formaram em instituições privadas.
A média de idade dos ingressantes na residência é de 28,6 anos.
O desafio que permanece
A Demografia Médica 2025 evidencia que, embora o Brasil tenha aumentado significativamente sua força médica, os profissionais continuam concentrados nas grandes cidades e nas capitais, dificultando o acesso à saúde em regiões remotas. Além disso, o envelhecimento da categoria, com 40% dos médicos acima de 55 anos, impõe a necessidade urgente de políticas de reposição e distribuição equitativa da força de trabalho.
Esse retrato reforça a importância de um planejamento estratégico que valorize a equidade de gênero e, sobretudo, a justiça territorial, em sintonia com as demandas do Sistema Único de Saúde (SUS) e com a realidade da população brasileira.
A Demografia Médica no Brasil 2025 foi elaborada por uma parceria entre o Ministério da Saúde, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e a Associação Médica Brasileira (AMB), com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) .