Saúde, beleza e juventude não são produtos. Mas estão sendo tratados como tal por profissionais sem qualificação adequada e muita gente mal intencionada e ambiciosa. Eles usam o terreno sem lei da internet como canal para espalhar fake news e para obter lucro. E não é à toa: o setor da economia voltado para beleza e bem-estar (que inclui serviços e produtos voltados para a saúde humana), deve movimentar nada menos do que 250 bilhões de dólares, em todo o mundo, no ano que vem. Boa parte do que compõe esse mercado, no entanto é fruto de pseudociência.
Muitas soluções mágicas que encontram brecha nesse mercado são travestidas de ciência e conhecimento médico para iludir as pessoas, com promessas de resultados rápidos, se não instantâneos. E elas vão das coisas mais corriqueiras até as que parecem grandes avanços: desde o suposto efeito milagroso da seiva da babosa no combate ao câncer ao uso indevido da terapia hormonal com fins estéticos e de retardamento dos efeitos do envelhecimento.
Cidadãos crédulos compram as mentiras (produtos e tratamentos também), suspendem os tratamentos convencionais das doenças crônicas, como a obesidade e a diabetes, e veem seus quadros de saúde se agravarem. Outros se submetem a procedimentos com proposta estética e que provocam deformações físicas e o surgimento de problemas de saúde graves. Nos dois casos, o paciente pode até chegar ao óbito.
Esse comércio que explora os anseios e a vaidade humana, promove uma pseudomedicina. E, em paralelo a isso, a abertura desenfreada de escolas médicas no Brasil joga no mercado de trabalho milhares de pessoas com diploma médico, mas sem formação adequada para exercer a medicina. Eram 200 escolas médicas em 2012 e hoje são 400.
A maioria dessas escolas são privadas, muitas não têm professores qualificados (muitas vezes nem são médicos) e, em geral, não tem hospital para o aprendizado prático, que faz parte da formação médica. Com o diploma na mão, depois de seis anos enchendo os bolsos dos donos dessas escolas sem qualidade, os alunos são jogados no mundo prático não para cuidar da saúde das pessoas, mas para ingressar no mercado da saúde – que tem uma vertente no segmento de “beleza e bem-estar”.
É nessa visão de mercado e por expectativa de ganhos financeiros, que há uma explosão de especialistas em “Hormonologia e Suplementação Hormonal”, em “Medicina do Estilo de Vida” e outras tantas. Todas com nomes muito sedutores, mas sem reconhecimento do Conselho Federal de Medicina e fazendo uso de práticas não reconhecidas e, não raro, que oferecem risco à saúde da população.
Esse contingente, se junta a um número imenso de profissionais de saúde de outras formações que invadem a área de atuação dos médicos e outros sem formação nenhuma, praticando charlatanismo e curandeirismo. O resultado é o caos e a sequência de tragédias que a imprensa noticia toda semana.
Os produtos e procedimentos desses milagreiros são oferecidos nas mídias sociais com recursos tecnológicos (inclusive personagens criados por Inteligência Artificial) e até atores – muito marketing e pouca ciência ou muita distorção de informações que simulam a realidade. No entanto, é na consulta médica que o paciente vai descobrir a origem de seus problemas, as alternativas adequadas de tratamento (os estéticos incluídos), inclusive as vantagens e riscos de procedimentos e medicamentos.
E os riscos existem para as coisas mais simples! Os chás e os suplementos alimentares e vitamínicos, se usados indevidamente, podem provocar males bem maiores do que seriam os benefícios anunciados por quem os vende.
Nesse contexto de picaretagem e difusão de tratamentos e remédios fantásticos (que podem literalmente acabar com a vida de uma pessoa), meu conselho é: ouça o médico de sua confiança e duvide da internet. Não entregue a sua saúde e a sua vida nas mãos de qualquer um – que, às vezes, você nem sabe se é uma pessoa real ou criação de Inteligência Artificial.
Marcos Gutemberg da Costa Fialho é presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal