A crise na saúde pública do Distrito Federal é alarmante, e a resposta do governo parece estar mais focada em promessas grandiosas do que em soluções práticas e imediatas. Recentemente, o governador do DF anunciou a construção de um novo hospital público em São Sebastião, no Alto Mangueiral, além de outras obras viárias e hospitais em diversas regiões administrativas. No entanto, essas declarações levantam sérias questões sobre a viabilidade e a prioridade das ações do GDF.
Apesar do anúncio de três novos hospitais e sete novas UPAs para o segundo semestre, a realidade é que a atual crise de recursos humanos e equipamentos não foi resolvida. As dificuldades na assistência pediátrica e a falta de condições de trabalho são problemas frequentes. Desde 2014, o serviço público de saúde perdeu 35% dos pediatras, caindo de 684 para 441 especialistas. Essa diminuição é resultado da sobrecarga de trabalho, salários defasados, condições inadequadas, ameaças frequentes e até agressões.
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES) projeta a construção de cinco hospitais e 17 UBSs até o final de 2026. Mas surge a questão: há recursos humanos suficientes para operar essas novas unidades? Recentemente, publiquei um artigo apontando que, apesar de o DF ter a melhor média de médicos por habitante no país, a maioria desses profissionais (cerca de 88,85%) trabalha na rede privada. Apenas 4,2 mil médicos atuam no sistema público de saúde, reflexo direto da falta de um plano de cargos e salários atrativo e das condições adversas enfrentadas no setor público.
Os anúncios de novas unidades de saúde pelo governo parecem ser uma tentativa de mascarar os problemas reais enfrentados pela população. Prometer novas construções sem garantir os recursos humanos necessários para seu funcionamento é uma medida superficial que não resolve a crise de saúde instalada. A verdade é que o anúncio dessas obras não pode encobrir o caos existente.
O governo deveria priorizar a melhoria das condições de trabalho atuais, garantindo que os serviços já disponíveis operem de forma eficaz e segura. Caso contrário, há apenas uma esperança ilusória, e o resultado será estruturas precárias, como as atuais, que não funcionam como deveriam.
Os problemas enfrentados pelos médicos e outros profissionais da saúde no DF, como a falta de condições adequadas de trabalho, a sobrecarga, os salários incompatíveis e a insegurança, desestimulam a permanência e a atração de novos profissionais. A responsabilidade injusta que recai sobre esses profissionais pelos problemas de gestão agrava ainda mais a situação.
Enquanto o governo do DF continua a anunciar novas obras, a realidade dos hospitais e unidades de saúde já existentes é de colapso e insuficiência. É necessário um plano de ação que vá além das promessas de construção e aborde de maneira concreta as carências atuais. Sem isso, mesmo com novos pátios hospitalares, os problemas persistirão. O GDF precisa trabalhar mais com a realidade e menos com a ilusão.