Desde a época de estudante, ainda acadêmico de medicina na UFPB, procuro entender por que nós médicos sempre fomos avessos às questões políticas. Hoje, sinto que a compreensão da nova realidade do trabalho médico tem mudado um pouco essa visão. Mas acredito que ainda há um longo caminho a percorrer para mudar essa realidade.
No passado nossa profissão era vista com mais respeito por todos, inclusive porque o nosso curso era muito disputado nas universidades, já que, praticamente, só existiam escolas públicas. As poucas universidades particulares ficavam no sudeste do país. Hoje em dia existe uma “facilidade maior de cursar medicina”. De acordo com um estudo da demografia médica, em 2010 eram 181 cursos no Brasil, e 16.818 alunos ingressantes. Em 2020 esse número disparou: 350 cursos com 40.881 alunos. Não pretendo aqui debater o mérito sobre o aumento dos cursos sem qualidade e o quanto isso está sendo prejudicial para a qualidade do trabalho dos médicos formados. O meu questionamento é que nós médicos estamos vendo nossos direitos como trabalhadores da saúde serem diminuídos, o mercado da saúde suplementar, a cada dia, destruindo nossos sonhos de profissionais liberais e os gestores públicos, diminuindo o número de concursos, com alternativas que criam um mercado de autofagia dentro do serviço público. É triste afirmar, mas muitos médicos acabam aceitando tudo para não perder o trabalho. Consequência disso: muitos profissionais estão com a saúde, principalmente mental, no limite.
E o que isso tem a ver com política? Na verdade, a pergunta é: o que a política tem a ver com a saúde? Eu afirmo, nos dois casos: tudo!
Enquanto nós médicos não estivermos mobilizados para participar da política estaremos perdendo espaço, basta ver a luta que foi para aprovar a Lei do Ato Médico. Na política não existe espaço vazio. Achávamos que éramos intocáveis, mas não somos. Precisamos nos mobilizar, com urgência. Precisamos unir forças, somos influenciadores de opinião, podemos escolher, dentro da nossa categoria, pessoas comprometidas com as nossas reivindicações.
Queremos saúde com qualidade para todos. Precisamos defender os concursos públicos, o cooperativismo médico, o piso nacional do salário médico. Queremos Planos de Cargos e Carreiras com salários dignos, ensino médico de qualidade com avaliação das instituições de ensino, aplicação de leis para combater o assédio contra os médicos, e melhores condições de trabalho, para exercer nossa profissão com dignidade. Temos direito de decidir o vínculo de trabalho que queremos, sem sofrer pressões.
Para que tenhamos uma VOZ que defenda, com compromisso, a MEDICINA, a SAÚDE e o MÉDICO, precisamos escolher de maneira consciente nossos representantes. Esse é o meu alerta, o meu chamado para que todos os médicos e médicas entendam que a POLÍTICA é importante sim. Temos que fazer essa reflexão e eleger as pessoas que estão dispostas a lutar pela nossa categoria.
Tarcísio Campos é presidente do Sindicato dos Médicos da Paraíba (SIMED-PB), diretor de Saúde Suplementar da Federação Médica Brasileira (FMB), CRM-PB: 4833-PB, Anestesiologia RQE: 2194 e especialista em Medicina do Trabalho RQE: 137