A Federação Médica Brasileira (FMB) foi fundada em 2015 por 12 sindicatos médicos que definiram que a democracia interna e as decisões coletivas seriam os pilares de sustentação da nascitura entidade sindical. Me permito especular que esta cultura interna aliada à sabedoria e maturidade de seus dirigentes são os responsáveis pelo vertiginoso crescimento e representatividade da FMB que, em 2023, chegou a 28 sindicatos filiados.
Com esta incontestável representatividade pudemos contribuir na organização do XIV Encontro Nacional das Entidades Médicas (ENEM), cujos debates e conclusões nos ajudaram a melhor representar o Brasil na I Conferência de Sindicatos e Grêmios Médicos da América Latina, evento realizado em novembro de 2023 na cidade de Buenos Aires. Na ocasião, além de conhecer a realidade do exercício profissional médico em outros países do nosso continente, concluímos os debates com os sindicatos médicos do Uruguai, Argentina e Peru visando a formação de uma entidade médica continental denominada União dos Sindicatos e Grêmios Médicos da América latina (Unión SIGMELA). A nova entidade visa, fundamentalmente, estreitarar relações entre os sindicatos médicos do continente, a troca de informações sobre o exercício profissional e apoio mútuo.
Ato contínuo, a Federação Médica Brasileira e seus sindicatos de base participaram da 5ª Conferência Internacional de Sindicatos Médicos, realizada nos dias 25 e 26 de janeiro de 2024 na Espanha, na cidade de Alicante. A FMB esteve presente como palestrante em duas mesas redondas: Sistemas de Saúde público e privado comparados e Formação Médica e Migrações.
Aproveitando a presença dos sindicatos médicos da América Latina, realizamos o ato formal de fundação da Unión SIGMELA, assinando os estatutos e consignando a ata de fundação. Para além de demonstrar a força e pujança da FMB e seus sindicatos de base, participar destes eventos nos deu a oportunidade de mostrar ao mundo sindical médico internacional as dificuldades para exercer a medicina no Brasil e as perspectivas de futuro. E mais, pudemos conhecer a realidade da prática médica nos outros países, bem como as ferramentas de pressão usadas pelos sindicatos co-irmãos.
Assim como no Brasil, em todo o mundo médicos sofrem assédio moral dos empregadores e violência nos locais de trabalho; deterioração da remuneração levando ao múltiplo emprego; precarização na contratação e péssimas condições de trabalho, particularmente, na América Latina; em alguns países, aumento da jornada de trabalho pela redução do número de médicos decorrente da migração por conta de conflitos armados.
Faço destaque à mesa que debateu a Inteligência Artificial (IA), o futuro da profissão e o sindicalismo médico. A IA já é realidade e está sendo utilizada no diagnóstico por imagem e na oftalmologia. A nova tecnologia vai, seguramente, impactar positivamente o exercício da medicina em todas as especialidades, melhorando o processo de decisão médica, ajudando na interpretação de exames e até recomendando tratamento personalizado. Porém, traz preocupações quanto à segurança de dados, confidencialidade, equidade no acesso e impacto na relação médico-paciente. Os sindicatos médicos não podem ignorar estes avanços tecnológicos e devem se preparar desde já para lutar contra a possibilidade de perda de postos de trabalho, adequando as pautas sindicais nos acordos coletivos e alertando a categoria para este futuro já presente.
Para fechar com chave de ouro nossa participação em Alicante, a delegação brasileira, capitaneada pela FMB, propôs e obteve a aprovação do plenário para a realização da 6a Conferência Internacional de Sindicatos Médicos no Brasil, em 2025. Esta conquista insere a Federação Médica Brasileira no sindicalismo médico mundial e sedimenta sua representatividade internacional. Viva a FMB! Viva o sindicalismo médico brasileiro!
Dr Waldir Araújo Cardoso –
1º presidente da Federação Médica Brasileira
Dirigente do Sindicato dos Médicos do Pará.