Falta de leitos, de profissionais, de materiais básicos, como máscaras, luvas, proteção facial e álcool em gel, além da insuficiência de protocolos para uma assistência de maior segurança e qualidade.
A percepção de que a segunda onda chega tão ou ainda mais grave que a primeira.
Importante percepção de tendência de alta dos óbitos e dos números de casos.
Descrédito nas autoridades da Saúde, tanto em relação ao presente quanto ao futuro pós-pandemia.
Esse é o retrato que emerge da I pesquisa nacional Os médicos e a pandemia de Covid-19, promovida pela Associação Médica Brasileira (AMB), com participação de 3.882 profissionais de Medicina de todas as regiões do País, em janeiro de 2021.
O levantamento on-line, por meio da plataforma Survey Monkey, foi viabilizado com representações estaduais da AMB – as denominadas Federadas da Associação Médica Brasileira.
Aliás, do ponto de vista estadual, é a IV edição do levantamento no estado de São Paulo, promovido pela Associação Paulista de Medicina (APM), desde os primeiros meses da crise sanitária, para um acompanhamento detalhado.
7 em cada 10 apontam tendência de alta de óbitos
Indagados sobre a situação atual de casos nas unidades que atendem a pacientes com suspeita ou já com Covid-19, 91,5% dos médicos observam tendência à alta em algum grau.
Quanto aos óbitos, a tendência é igualmente de alta para 69,1%, ou seja, praticamente 7 em cada 10.
UTIs lotadas e números críticos em Manaus
Oito em cada 10 entrevistados apresentam a percepção de que as UTIs estão mais lotadas que habitualmente, sendo que 17,7% apontam que isso está comprometendo a qualidade da assistência. Especificamente na Região Norte, o índice é de 21,3% e no Amazonas, esse número salta para 54,5%.
8 em cada 10 veem equívoco na desativação dos hospitais de campanha
A amostra da pesquisa traz 55,3% de médicos e 44,7% de médicas, totalizando os 3.882 profissionais de Medicina já citados. Eles foram inqueridos sobre a desativação dos hospitais de campanha, algo que ocorreu por todo o Brasil nos meses finais de 2020. O entendimento de 81,4% é de que tal decisão foi equivocada.
Falta de álcool gel até protocolos de conduta
Um ano após o início da pandemia, mais de 220 mil mortes já foram contabilizadas no Brasil e quase a bater 10 milhões de casos, 64% dos médicos que retornaram os questionários seguem apontando deficiências básicas nos locais em que prestam atenção à pandemia de Covid-19. As insuficiências:
O devastador efeito do vírus fake news
Além de todos esses problemas e deficiências, a assistência é impactada por recorrentes fake news e informações sem comprovação científica. Somam mais de 9 entre 10 (91,6% dos pesquisados) os que citam interferência negativa das notícias falsas, como o descrédito da Ciência, a dificuldade de os pacientes aceitarem as decisões dos profissionais de Saúde, o desprezo às medidas de isolamento e pressão para que sejam receitados medicamentos sem comprovação científica de eficácia.
Médicos exaustos e sobrecarregados
Naturalmente, há agravantes que se explicam pelo próprio cenário no qual os médicos atuam e relatam no levantamento. Um deles é que a síndrome de Burnout ameaça a linha de frente. Hoje, a percepção é de profissionais exaustos física e emocionalmente, estressados, ansiosos etc.
O distanciamento da população… da prevenção
Outra consequência relacionada às fake news e à desinformação proposital se dá no descomprometimento de parcela da população com as medidas de prevenção ao novo coronavírus. Os médicos foram questionados sobre como avaliam a resposta às orientações para o uso de máscara, isolamento, distanciamento etc., e 50,5% dizem que em nenhuma delas há adesão suficiente.
7 a cada 10 citam casos de pacientes infectados que apresentam sequelas após a cura
Entre as sequelas, são recorrentes eventos cardíacos, acidente vascular cerebral e trombose, além das que seguem em destaque:
Quase 25% dos médicos pesquisados já tiveram Covid-19
Enquanto a relação de casos de Covid-19 entre os 209 milhões de brasileiros é de 4,3%, a razão entre os médicos da linha de frente pesquisados é de 23,4%.
Outro número que impressiona: 3 em cada 10 consideram que as autoridades de Saúde não estão aplicando adequadamente uma só medida. E o que causa mais perplexidade ainda: 76,10% veem inadequações nas orientações de isolamento, 80% em relação à necessidade de ventilação de ambientes, 56% insuficiências no tocante a evitar aglomerações, 88,6% no rastreamento aos contactantes e 76,10% inadequações no quesito campanha para busca de serviços de Saúde em caso de sintomas.
Como os médicos pesquisados analisam medicamentos
Os médicos pesquisados também foram convidados a se posicionar sobre a cloroquina, a ivermectina e outros medicamentos. O quadro, abaixo, traz uma síntese das percepções:
97,5% vão se vacinar e orientar pacientes a também o fazerem
Quanto à imunização, 97,5% pretendem ser vacinados contra a Covid-19 e prescreverão a imunização para seus pacientes.
Descrédito quanto às autoridades da Saúde
99% acham que deve haver mudanças na Saúde do Brasil pós-pandemia, porém, 73% não creem que os gestores e autoridades passarão a tratar as fragilidades históricas do sistema de forma mais profissional e prioritária. Junte-se a isso que a aprovação do Ministério da Saúde fica em 16,60% considerando os pesquisados de São Paulo, contra 72% da época em que o titular era Luiz Henrique Mandetta.
Fonte: AMB