Como o resto do mundo, o Pará enfrenta a pior e mais devastadora pandemia deste século. Para além das mais de 5.000 mortes e do sistema de saúde colapsado, a pandemia deixa um rastro de destruição na economia e na vida de milhares de paraenses.
Como se não bastasse todo esse infortúnio, assistimos estarrecidos as ações policiais determinadas pelo poder judiciário em prédios públicos e na residência particular de altas autoridades do Estado. Denúncias do mau uso do dinheiro público na compra de respiradores, recurso felizmente recuperado, mas tantas outras suspeitas, que levaram à queda de toda a cúpula dirigente da Secretaria de Estado de Saúde Pública.
A nomeação de um Delegado da Polícia Federal para o cargo de Secretário de Saúde nos causa espécie. O que um policial fará à frente dos destinos da saúde do nosso estado? O que fará na Sespa um profissional que tem como experiência pregressa, por exemplo, presidir inquéritos policiais e conduzir os rumos de investigações?
Uma hipótese é que a situação na Secretaria de Saúde é tão grave que não basta a ação investigativa dos órgãos já existentes para este fim, como o Tribunal de Contas do Estado, o Ministério Público do Estado ou a própria Polícia Civil. Esta hipótese leva à conclusão de que o governo do Estado reconhece que só sob o comando de um policial conseguirá estancar supostos desvios de conduta que estariam sendo praticados naquela Secretaria. Diferente não é a situação da Secretaria de Saúde de Belém, onde suspeitas de malfeitos surgiram recentemente e que também merecem investigação criteriosa para esclarecimentos à sociedade.
O Sindicato dos Médicos do Pará, defensor não só da categoria médica, mas histórico lutador em defesa da qualidade da saúde, não pode deixar de manifestar publicamente sua preocupação com os rumos do SUS no Pará. A falta de um comando técnico qualificado na Secretaria de Estado de Saúde Pública deixa a gestão em saúde no Estado à deriva, dificultando ainda mais o enfrentamento da pandemia e jogando a atenção à saúde no Estado nas brumas da incerteza.
Diretoria Colegiada do Sindmepa
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