Presidente da Federação Médica Brasileira, Casemiro dos Reis Júnior, escreve artigo sobre enfrentamento do Coronavírus:
A Itália decretou lockdown no dia 09/03/2020, quando apresentava 9.172 casos confirmados e 463 mortes. Era, naquele momento, o país com maior número de vítimas do Covid-19 fora da Ásia. Hoje, apresenta 201.505 casos e 27.359 mortos.
A França e a Espanha decretaram seus confinamentos no dia 14/03/2020, quando a França contava com 4.500 casos e 91 mortos; somando atualmente 164.589 casos e 23.660 pessoas que perderam as suas vidas. Já a Espanha computava 5.700 casos e 120 mortos naquela data, ao passo que hoje totaliza 229.422 casos e 23.822 óbitos. O Reino Unido, por sua vez, foi posto em lockdown dia 23/03/2020 quando tinha 6.650 casos e 281 mortos, tendo hoje 161.145 casos e 21.678 mortos.
Os EUA nunca decretaram o lockdown nacional e, apesar dos esforços de diversos estados isolados, estão batendo recordes de número de casos e de mortes no mundo todos os dias. Em 28/04/2020, superaram 1 milhão de infectados e 57 mil mortos. Nos quase 20 anos da Guerra do Vietinã foram 58 mil mortos e 300 mil feridos, – comparativamente, um terço dos infectados.
O Brasil superou nesta quarta-feira (29/04) o número de mortos totais da China, apesar de ainda apresentarmos um índice menor de casos. Estamos com 71.886 confirmações oficiais e 5.017 mortes, e ainda não temos um comando central de enfrentamento da pandemia. Além desses números assustadores, as atitudes irresponsáveis e os deboches do Presidente da República, o Sr Jair Messias Bolsonaro, são um constante desincentivo às poucas e tímidas medidas de distanciamento social adotada por alguns estados brasileiros. Muitos desses estados já se encontram em pleno colapso de seu sistema de saúde, como ocorre no Amazonas, no Pará e em Pernambuco. Rio de Janeiro e São Paulo também veem a mesma situação batendo em suas portas.
Estamos flertando com uma tragédia anunciada. Apesar de alguns governadores começam a discutir estratégias para retomada de atividades econômicas, há indicativos de que a situação pode ser bem pior do que sugerem os números oficiais. Estima-se que a subnotificação de infecções e de mortes seja enorme.
É urgente e necessário tornar o enfrentamento da pandemia no Brasil uma prioridade absoluta. O governo federal tem muito trabalho a fazer e deve comandar essa prioridade organizando de maneira centralizada os equipamentos de saúde e provendo de insumos e recursos humanos as regiões e os municípios mais frágeis economicamente. Uma política agressiva, rápida e generosa de distribuição de renda para mitigar as consequências da desaceleração econômica em muitas regiões que devem ser colocadas imediatamente em lockdown.