Entrevista com o director de Comunicação do Sindicato dos Médicos do Estado de Mato Grosso (Sindimed-MT), Adeildo Lucena.
1) Como o senhor avalia a gestão da saúde em Cuiabá?
O prefeito Emanuel Pinheiro tinha intenção de acertar na saúde, quando escolheu para comandar a pasta a servidora Ellizeth Araújo. Mas, infelizmente, outros interesses sobrepujaram a boa vontade. Depois disso, uma série de problemas aconteceu, inclusive envolvendo a Justiça. Portanto, avalio a gestão como muito ruim.
2) O médico servidor de Cuiabá vem lutando há algum tempo por ajustes em seu PCCV. A categoria conseguiu avançar nesta pauta?
É necessário que se tire os penduricalhos, como o Prêmio Saúde, e incorporar isso ao salário. Afinal, o médico quando se aposenta não receberá mais esses benefícios. Depois de 35 anos de trabalho, receberá em torno de 40% do que ele ganha hoje. Portanto, existe uma proposta da própria gestão. Estamos tentando retomar esse assunto, mas parece que não há qualquer intenção por parte da Prefeitura.
3) Como analisam o escândalo na saúde ocorrido na atual gestão?
Infelizmente a troca da Elizeth pelo Huark Douglas Correa não parece ter sido uma boa opção. Não estamos julgando as pessoas. Mas é evidente que iremos acompanhar o desenrolar dos acontecimentos, que estão sendo apurados pelo Ministério Público do Estado. E pior é que existem outras empresas como as envolvidas no suposto esquema de desvio de recursos da saúde que ainda continuam por aí, atuando em contratos públicos. É um absurdo uma empresa dessas ganhar R$ 1.700,00 para um plantão de 12h e pagar R$ 900,00 ao médico.
4) Consideram o modelo de gestão do novo Pronto-Socorro bom? Apoiam a ideia da Empresa Cuiabana de Saúde Pública?
Nós respeitamos a Constituição Federal. É preciso realizar concurso público. E, por isso, não concordamos com o modelo de contratação e gestão do Hospital Municipal de Cuiabá. Não conseguimos entender como a Prefeitura não consegue cumprir com seu papel. O prefeito precisa assumir seu papel. Terceirizar a responsabilidade dá margem para equívocos do passado, como aconteceu com as Organizações Sociais. É claro que a medida atende alguns interesses privados. Esse problema vai eclodir mais cedo ou mais tarde. E quem paga o pato, claro, é sempre a população que necessita do atendimento público.
5) Como avaliam a inauguração do HMC? Qual o impacto na saúde de Cuiabá e região?
Não sei como a Prefeitura manterá o HMC e o antigo Hospital e Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá funcionando ao mesmo tempo. Se nem o atual eles dão conta de tocar direito. Faltam insumos, medicamentos e equipamentos. Faltam médicos nas Unidades de Terapia Intensiva. Tem médico que não tira férias há três anos, pois não consegue se ausentar por falta de substituto. Construir prédio não é difícil. Difícil é manter. Claro que torcemos para que dê certo. Mas a realidade já demonstra que não deverá ser diferente.
6) E a gestão dos hospitais universitários por meio da Ebserh é boa?
Esse é um problema bastante extenso. Conseguimos recentemente com que os médicos dos hospitais universitários recebam insalubridade. Isso se estende a outras categorias também. Vejo que a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares é mais uma forma de driblar a legislação trabalhista, assim como a Empresa Cuiabana de Saúde Pública.
7) A gestão da saúde do Estado, vai bem? Se não, o que é preciso para melhorar?
Acho que a ideia de assumir a Santa Casa e transformá-la numa unidade hospitalar gerida pelo Estado foi muito boa. Cuiabá, até então, não tinha um hospital gerido pelo Estado. Mas este governo ainda teve pouco tempo para promover mudanças estruturantes na gestão. Há 18 anos o Estado não realiza concurso público para contratação de médicos. Falta diálogo da gestão atual com a categoria. Esperamos mais proximidade.
8) E a RGA de Cuiabá, começou a ser paga?
Na época do então prefeito de Cuiabá, Chico Galindo, fizemos um acordo bom. Mas, em vez de conquistarmos um aumento real nos nossos salários, decidiram criar a Reposição Geral Anual. E isso não vem sendo cumprido. Por isso, tivemos que entrar na Justiça para poder receber. E ganhamos. A gestão atual vem pagando os reajustes atuais. E o que ficou pra trás, embutiu no reajuste que foi concedido a todos os servidores.
9) E como andam as negociações com a Prefeitura de Várzea Grande? RGA, piso e concurso público.
Chamaram os concursados, o que é positivo. A Prefeitura também concedeu reajuste. Conseguimos alguns avanços para a categoria. Ainda enfrentamos dificuldades no diálogo. Mas a saúde pública de Várzea Grande, de modo geral, também vai mal, assim como em Cuiabá e no Estado.
10) O que o senhor acha do revalida?
Não tem como não fazer o revalida. O médico que estuda no exterior e pretende atuar no Brasil, precisa fazer uma prova de habilitação. Eu ainda penso que seria interessante um exame como dos advogados, para os médicos brasileiros, a fim de elevar a qualidade dos profissionais. Para se ter uma ideia, em Pedro Juan Cabaleiro, na fronteira do Brasil com o Paraguai, existem 17 faculdades de medicina. De R$ 300,00 a R$ 2.000,00. Tem para todos os bolsos. Tem colegas que não sabem nem escrever direito. Portanto, precisamos avaliar a qualidade da formação profissional e o mercantilismo que isso se tornou. Imagina se a proposta de que as faculdades privadas façam a prova de revalidação? Isso nos preocupa!
Fonte: Sindimed MT