Especialistas médicos defenderam a necessidade de se criar um Plano Nacional de Demência, doença mal diagnosticada, e nem sempre compreendida, que atinge os idosos. A criação do plano foi apoiada por deputados de duas comissões da Câmara: a de Defesa dos Direitos do Idoso e a de Seguridade Social e Família, que discutiram o assunto nesta quarta-feira (26).
Ao contrário do senso comum sobre a palavra demente – de que define o indivíduo que tem alterações de comportamento –, do ponto de vista da Medicina, demência é o declínio progressivo da capacidade cognitiva, do entendimento, o que torna o indivíduo dependente de outros para as atividades mais ou menos complexas da vida cotidiana. O Alzheimer é o tipo mais comum de demência.
Presidente da Comissão do Idoso, a deputada Lídice da Mata (PSB-BA) adianta o que a Câmara poderá fazer.
“Nós podemos constituir um grupo de trabalho das duas comissões. Quero propor, junto com deputados e deputadas que se dedicassem um pouco a isso, e em contato com especialistas, nós elaborarmos uma legislação que constituísse um plano geral nacional de prevenção à demência”, explicou.
Atualmente, 1,7 milhão de pessoas vivem com algum tipo de demência no país e 77% dessas pessoas não foram diagnosticadas. O número de novos casos em pessoas com 65 anos ou mais deve aumentar para quase 7 milhões até 2050.
Esses dados foram apresentados pelo médico Ricardo Nitrini, da Academia Brasileira de Neurologia, que é coordenador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Universidade de São Paulo. Nitrini diz como esse grupo poderia trabalhar.
“Atuar no sentido de verificar quais são as atividades mais importantes a fazer para prevenir a ocorrência de demência, para cuidar dos indivíduos que têm demência, para cuidar dos cuidadores dos indivíduos com demência. Ou seja, é um conjunto de ações que vão ter que ser muito bem discutidas.”
Segundo Ricardo Nitrini, hipertensão arterial, diabetes e falta de exercícios físicos, entre outros, são fatores que podem levar à demência. A baixa alfabetização e escolaridade entre os idosos, as altas taxas de pobreza e desigualdade de acesso a serviços de saúde explicaria a maior incidência de demência na América Latina. Países como Chile, México, Costa Rica, Cuba e Porto Rico já têm planos nacionais de demência.
O presidente da Associação Brasileira de Alzheimer, o médico Rodrigo Rizek Schultz, detalha outros aspectos do plano nacional, além da prevenção.
“Como há também o estigma, são importantes a conscientização sobre a doença, o tratamento, a orientação dada às instituições de longa permanência e para quem cuida dos pacientes em casa”, lembrou. Segundo ele, esses pontos envolvem pesquisa, desenvolvimento de novas drogas e análise dos pacientes e cuidadores. “Nós devemos definir qual é a prioridade do Brasil – cada país tem a sua – para elaborarmos o nosso próprio plano”, disse.
A deputada Flávia Morais (PDT-GO), que propôs o debate, tem uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC 348/17) que cria o Plano Nacional do Cuidado, que pode ajudar no plano contra a demência.
“Hoje, um grande obstáculo é tanto a qualificação como a possibilidade de uma política de cuidados que permita à família ter um cuidador, uma pessoa especializada, capacitada pra tratar o idoso de forma geral, mas principalmente no caso da demência, onde ele é mais dependente, onde ele precisa de cuidados de terceiros.”
As comissões do Idoso e de Seguridade Social da Câmara vão fazer novas audiências, envolvendo mais especialistas e organizações não governamentais, para ampliar a discussão sobre o Plano Nacional de Demência.
Fonte: Câmara dos Deputados