Quem precisa de uma unidade de saúde da rede estadual precisa contar com a sorte. Os problemas se repetem e o setor ainda não é prioridade de governo Renan Filho (MDB), reclamam os profissionais e pacientes, como o motorista desempregado Guilherme Henrique da Silva. Ele buscou atendimento no mini-pronto socorro do Jacintinho (Ambulatório 24 Horas João Fireman), desta vez conseguiu ser atendido, mas a medicação antibiótica para a inflamação no ouvido teve que comprar porque não tinha na farmácia da unidade de saúde. “Estou desempregado vou ter que conseguir dinheiro emprestado para comprar o remédio porque aqui não tem”, reclamou o desempregado.
O mini-pronto socorro funciona num prédio antigo, com as paredes cheias de mofo, tem infiltração nas paredes e parte do teto, na entrada principal os bancos de espera são sem conforto algum e tem muito mau cheiro por causa do esgoto que corre na calçada. O vigilante da unidade garantiu que atualmente o quadro de clínicos e outras especialidades está completo. Considerou que a reclamação de falta de medicação feita pela maioria dos pacientes é normal. Assegurou, porém, que a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) vem repondo os estoques sempre que possível.
Nas outras 17 unidades da rede estadual que atende as demandas dos 102 municípios também faltam medicamentos, equipamentos básicos até para medir a pressão, além de um baixo número de médicos no quadro de atendimento e plantões. A situação é pior nos municípios mais distantes da capital.
No Hospital Geral do Estado (HGE) as reclamações dos pacientes e dos profissionais também se multiplicam. A demanda é grande e os estoques de medicamento estão sempre em baixa. Pelas previsões dos profissionais da saúde e do Sindicato dos Médicos de Alagoas (Sinmed/AL), a situação deve piorar. A administração estadual anunciou a conclusão da construção de cinco novos hospitais e não definiu como vai equipar as unidades.
Um desses hospitais novos é o da Mulher, no bairro do Poço. Para a unidade, devem ser contratados 800 profissionais sem concurso público e a maioria dos equipamentos ainda não chegou, revelaram os dirigentes do Sindicato dos Médicos.
Os profissionais de Saúde não escondem a preocupação com a falta de concurso público e a precarização dos contratos de trabalho num dos estados mais pobres do País. O presidente do Sindicato dos Médicos, Marcos Holanda, cobra as promessas de campanha para a saúde pública e considera que a saúde anda ruim. “A saúde pública do estado está na enfermaria semi-intensiva”, classificou.
Obras atrasadas e falta de concurso na saúde
Numa entrevista recente à Gazeta, o secretário estadual da Fazenda, George Santoro, anunciou que a partir do segundo semestre o governo iniciará uma série de inaugurações de obras públicas que já deveriam ter sido entregues há mais de um ano, ou seja, na primeira gestão do governo de Renan Filho (MDB), conforme o próprio governador prometeu. Construídas com o dinheiro do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep), entre as obras estão cinco hospitais de médio e pequeno portes. O anúncio do titular da Sefaz fez aumentar a preocupação dos médicos alagoanos.
Segundo eles, se as cerca de 20 unidades da rede estadual enfrentam diversos problemas por conta da precarização e falta de insumos, como vão funcionar os novos hospitais? Questionam mais de cinco mil profissionais que cobram concurso público e regularização de contratos de trabalho nas unidades da rede estadual. Nenhum dos médicos se mostra contra a construção dos hospitais. Entretanto, alertam que saúde pública precisa de planejamento para evitar desperdício de dinheiro do contribuinte e de resultados nas campanhas de saúde.
O presidente do Sindicato dos Médicos, Marcos Holanda, garante que se o estado fizer o processo correto para melhorar o atendimento da população, sobretudo os mais pobres, “médico não vai faltar”. Segundo ele, em Alagoas, hoje, tem cirurgiões (especialidade do sindicalista) em quantidade suficiente para atender a demanda em diversas especialidades cirúrgicas. Também já existem profissionais como anestesistas, clínicos e outras especialidades em quantidade que dá para suprir a necessidade do estado que tem uma população de 3,3 milhões (3.322.820) de habitantes. “O que falta agora é concurso público”.
O problema é que o governo estadual não define metas de concurso público para a saúde e isto irrita as diversas categorias do setor. Tanto que os profissionais e o Sindicato dos Médicos cobram do secretário de Saúde, Alexandre Ayres, a realização do concurso inclusive para o Hospital da Mulher, que fica ao lado da Santa Mônica. O prédio foi concluído perto do período eleitoral, já deveria está funcionando desde junho do ano passado, mas ainda não tem equipamentos e nem profissionais contratados. Um funcionário da Santa Mônica definiu o atual momento do Hospital da Mulher como “bonito por fora e oco por dentro”, porque está vazio; enquanto isso a maternidade que funciona ao lado vive o problema de superlotação.
Fonte e foto : Gazeta Web