Hoje mais um de nós se foi. Raphael Cabral de Almeida, residente do 2o ano de ortopedia no Hospital de Urgência de Goiana (HUGO) foi vencido pela depressão.
Nós, médicos residentes das mais variadas especialidades, sabemos que cursar uma residencia é estar sob pressão constantemente, vinda dos chefes, dos pacientes, dos colegas de trabalho, pressão vinda de nós mesmos.
Ser residente é dedicar toda nossa energia e tempo a uma jornada de trabalho que em alguns lugares chega a fechar mais de 100h semanais. É trabalhar muito, sem praticamente nenhum reconhecimento ( e até sendo humilhado) e ganhando pouco. É se doar tanto, que falta pra gente mesmo, falta pra nossa família, falta em todos os outros lados da nossa vida. É um sacrificio constante, sem feriados, poucas folgas. As datas especiais ao lado de quem amamos ficam de lado.
Quantos de nós usam antidepressivos? Ansioliticos? Ou melhor: quantos de nós NÃO usam?
Só nós sabemos quantos foram ( e são) os momentos de tristeza, decepção, angústia, raiva, momentos em que o estresse e a sobrecarga são tão grandes que parece que nossa vida se resume àquilo; e que às vezes não vemos saída.
Isso é tão comum que deram até um nome: “Síndrome de Estresse do Médico Residente”. E olha só como ela é descrita: conjunto de distúrbios cognitivos episódicos, sentimentos crônicos de raiva, desenvolvimento de cinismo perversivo, discórdia conjugal e familiar, presença de episódios de depressão maior, ideação suicida e abuso de substâncias. Esta síndrome apresenta como fatores associados a privação do sono, carga excessiva de trabalho, mudança no grau de responsabilidade no cuidado aos pacientes, mudanças frequentes nas condições de trabalho e presença de competição entre os colegas.
Já passaram por isso? Eu já.
O Raphael também deve ter passado.
A quem pedimos socorro quando a solução parece ser desistir de tudo, da vida? Ao mesmo tempo em que continuamos cumprindo nossa vasta carga horária, distribuindo sorrisos amarelos pelos corredores, se agarrando a litros de café para forçar o cérebro a continuar acordado, tomando nossas pílulas para tratar sintomas do corpo, mas que na verdade vêem da alma.
Não podemos fechar os olhos e deixar esse acontecimento ser mais um.
A saúde mental do médico residente precisa ser levada a SÉRIO!
Afinal, quem cuida da gente enquanto cuidamos dos outros?
Fonte: ACMR