Clientes do plano de saúde Agemed não conseguem atendimentos em clínicas, consultórios e laboratórios de Cuiabá. O problema, relatado por pacientes, ocorre devido ao descredenciamento das unidades junto à operadora de saúde. O vínculo vem sendo rompido após atrasos nos pagamentos aos profissionais e unidades que chegam há oito meses. Além das denúncias de falta de assistência, o Conselho Regional de Medicina afirma que o plano, que atende hoje cerca de 25 mil pessoas em Mato Grosso, está irregular e apesar de já ter sido notificado diversas vezes, não se manifestou.
Mesmo com as mensalidades em dia, os pacientes não estão conseguindo nem mesmo consultas e exames de rotina. A denúncia já chegou à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que acumulou, somente no ano passado, 62 reclamações da operadora no Estado, 47 delas referentes à cobertura assistencial.
A agência informou que tem acompanhado o desempenho da operadora Agemed e está avaliando providências a serem tomadas, após registrar reclamações de beneficiários em seus canais de atendimento. “Cabe informar ainda que a Agemed se encontra em regime de direção fiscal desde junho de 2018, conforme determinação da ANS publicada no Diário Oficial da União. Contudo, o atendimento aos beneficiários da operadora não pode ser impactado e deve ser garantido integralmente. Conforme previsto em lei, o regime de direção fiscal é instaurado em operadoras com anormalidades administrativas e econômico-financeiras que podem colocar em risco a qualidade e a continuidade do atendimento à saúde dos beneficiários”, destaca a ANS.
Até mesmo nas redes sociais da Agemed Cuiabá as reclamações se acumulam. Os problemas na página vão desde aqueles encontrados por pacientes, até próprios médicos que relatam o não recebimento dos serviços prestados. “A agemed está falindo? Vários médicos e até laboratórios pararam de atender Agemed por falta de pagamento. Perdi uma consulta já marcada por este motivo. Entrarei com reclamação junto à ANS”, relata uma cliente.
“Péssimo, nenhum médico atende mais por esse plano. Vamos organizar uma ação contra esses golpistas, recebem e não pagam os médicos”, denúncia outro paciente.
Helena Cristina dos Santos, 33, diz que contratou o plano há quase dois anos para a mãe de 61 anos, mas que nos últimos seis meses tem enfrentado dificuldades para dar continuidade ao tratamento oncológico. Ela paga mensalidade superior a R$ 1,4 mil por mês, por algo que na prática não tem surtido efeito. “O médico que acompanha a minha mãe já nos comunicou que está deixando de atender pelo plano. Ou a gente começa do zero com outro profissional, ou continua com ele, mas pagando particular. Isso é um absurdo. Pode até afetar o andamento do tratamento da minha mãe”, afirma.
Pediatra e presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindimed), Evelyn Hack Bidigaray diz que, como outros colegas, vivencia os atrasos da Agemed, que se acumulam desde junho do ano passado. A médica ressalta que muitos consultórios deixaram de atender. Desta forma, o pronto-atendimento, que ainda continua, acaba acumulando pacientes. “Não é possível atender consultas eletivas no pronto-atendimento e fazer exames de rotina. Mas as pessoas estão indo por não ter onde recorrer e a gente atende. O que ocorre é que com essa situação pode correr o risco de deixarmos de atender pessoas mais graves, atendendo os eletivos”, diz.
A médica frisa que além dos danos aos profissionais, que estão esperando até oito meses por repasses, os pacientes estão sendo iludidos com um plano que não está cumprindo o que deveria. “E eles continuam vendendo. É um plano que não é barato. Mas a medida que se populariza, o plano não aguenta. As pessoas ficam iludidas, pensam que estão comprando um bom serviço e acabam não sendo atendidas”.
Especialista em medicina da Família, Adeildo Martins de Lucena Filho diz que a Agemed entrou com a proposta de trabalhar um plano mais barato, mas não tem estrutura para isso e hoje usa a rede de hospitais privados. Ele diz ainda que para os médicos, desde agosto do ano passado não há pagamentos. Isso inclui pronto-atendimento, atendimentos em consultórios, procedimentos cirúrgicos, exames complementares e vários hospitais que estão sem receber há algum tempo. “Alguns hospitais já estão providenciando descredenciamento em virtude do não cumprimento de acordos por conta de atrasos. Essa é uma situação bastante insustentável, de agosto para cá sem receber fica complicado, os consultórios, na maioria, já não estão mais atendendo”, diz.
Uma das unidades que confirma o descredenciamento é o Hospital Infantil e Maternidade Femina. A unidade informou que, por questão contratual, o convênio com a operadora de planos de saúde Agemed foi rescindido. Por esse motivo, não estão mais sendo realizados atendimentos eletivos pelo convênio.
Irregular
Presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM), Hildenete Fortes informou que o plano de saúde Agemed atua irregularmente no Estado. Segundo ela, a empresa não possui registro junto ao CRM. A presidente do conselho alega que a Agemed já foi notificada por várias vezes a respeito do problema, mas até o momento não se manifestou.
Quanto aos médicos que estão se desvinculando da Agemed, Hildenete diz que por se tratar de um acordo comercial entre as partes, quando há problemas, os profissionais podem desvincular. Mas, como o processo ainda está irregular, o conselho não tem como intervir no assunt
Outro lado
Em nota a Agemed confirmou que está em Mato Grosso há mais de cinco anos e hoje atende aproximadamente 25 mil beneficiários no Estado. A empresa frisa que mantém rede de prestadores de serviços que atende todo o rol de serviços determinado em contrato.
“A operadora mantém o compromisso de garantir o atendimento a seus clientes e pede que os beneficiários entrem em contato pelo telefone 0800 642 4044 quando identificarem qualquer dificuldade em agendamentos. A equipe da empresa também está à disposição na unidade instalada na rua Aclimação, 506 – Bosque da Saúde”, destaca nota.
Fonte e foto: Gazeta Digital