Falta de medicamentos, carência de médicos, estrutura precária, superlotação e salários parcelados dos funcionários. Essa é a situação verificada pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) no Hospital Centenário, em São Leopoldo, na tarde desta sexta-feira (17/08).
Com os corredores da emergência lotados de pacientes, os funcionários do hospital cumprem suas funções sob pressão. No local, faltam pelo menos dois médicos rotineiros – um de manhã e outro de tarde. Atualmente, existem somente três médicos para atender o SAMU, a Unidade de Tratamento Semi Intensivo, que é quase uma UTI clandestina, e a emergência. Além disso, foi constatada falta de medicamentos essenciais como Ondacentrona, Omeprazol EV e antibióticos.
“É uma situação terrível que precisa ser levada a sério pelos gestores e agentes públicos. Precisa ser resolvida com a máxima urgência, pois os médicos estão se superando para cumprir o ofício de salvar vidas da população”, destaca André Gonzales, diretor do Simers.
Segundo um médico emergencista que trabalha há mais de 20 anos no hospital, as instalações físicas do hospital estão deficitárias. São macas em péssimo estado de conservação e paredes de oxigênio, aparelhos de vácuo e aspiração que não funcionam. Os pacientes com idade avançada estão colocados em macas de transporte, o que compromete a segurança e o conforto. Além disso, não há divisão entre os pacientes da emergência. São mulheres, homens a adolescentes sendo atendidos um ao lado do outro sem qualquer privacidade.
“A situação nunca esteve tão desgastada aqui. Agora, não contamos nem com um refeitório, pois foi fechado para os funcionários. Ser médico não é uma profissão de boia fria, mas estamos chegando perto disso com essa situação”, lamenta o médico.
A realidade no Centro Obstétrico é semelhante. Para atender a maternidade, existem somente dois médicos obstetras durante o dia. No período da noite, a situação é mais crítica, já que há somente um médico, que realiza as operações com um residente.
Quando ocorre alguma intercorrência ginecológica, o médico da maternidade é quem desce para dar o suporte, ficando a unidade sem médicos neste período. A mesma situação acontece nos sábados e domingos – para cesarianas, partos e primeiros atendimentos da gestante e emergência”, salienta o diretor do Simers.
Irregularidades no setor da pediatria
As irregularidades se estendem para o atendimento pediátrico. No hospital, as crianças circulam pelas salas aonde estão internados adultos com patologias, pois não há uma porta de entrada diferenciada para elas, assim como sala de medicação própria, fazendo com que sejam expostas a riscos.
Outros problemas ficam por conta do atraso dos salários, que há mais de três anos são pagos de forma parcelada, assim como a superlotação e falta de atendimento de retorno nas unidades básicas. A situação compromete o tratamento do paciente, principalmente se for de traumatologia, reumatologia, hematologia e cardiologia.
“Há uma condição complicada de trabalho para os médicos, tanto em relação à falta de estrutura quanto à carência de profissionais”, aponta a diretora do Simers, Clarrisa Bassin, que percorreu todo o hospital avaliando as condições da instituição de saúde. “Nem sempre a decisão de ser 100% SUS é a melhor alternativa para o hospital, tanto do ponto de vista financeiro quanto social”, conclui a diretora.