Crianças e adolescentes que precisam de internação em hospitais podem ter mais dificuldades para conseguir vagas, pois 583 leitos pediátricos do Sistema Único de Saúde (SUS) foram fechados em Santa Catarina nos últimos oito anos. As vagas para internação no Estado encolheram 38% – a segunda maior queda do país, atrás apenas de Sergipe, com variação negativa de 49%.
A pediatria foi a especialidade que mais sofreu com a redução de leitos em SC. Se consideradas todas as especialidades, o corte foi menor, de 2,3%, enquanto no país foi de 9,4%. Os dados integram o levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), com base no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde.
Inconsistências na Capital
O presidente da Sociedade Catarinense de Pediatria, Edson Carvalho de Souza, no entanto, faz ressalvas em relação aos números. Ele cita que há inconsistência, por exemplo, nos dados de Florianópolis, que indicam queda de 91 para 51 vagas. Mas, segundo Souza, há 140 leitos no Hospital Infantil Joana de Gusmão e no Hospital Universitário. Ainda assim, há déficit de vagas na Capital.
O especialista diz que o ideal, conforme recomendação do Ministério da Saúde, é ter 0,41 leito para cada 1 mil habitantes. Assim, seriam necessários 200 na Capital e 2,8 mil em todo Estado, distante do registrado atualmente:
– Não há nenhum caso de paciente com necessidade de internação que não tenha conseguido. Mas isso demanda um trabalho extra da regulação para buscar vagas em outro local, às vezes em município diferente. A luta da Sociedade Brasileira e Catarinense de Pediatria é aumentar o número de vagas, porque realmente há fechamentos e um déficit na quantidade de leitos pediátricos – afirma Souza.
O primeiro secretário do CFM, Hermann von Tiesenhausen, reforça que esse quadro revela a face negligenciada do SUS, que, sem a adoção de medidas efetivas, continuará provocando atrasos em diagnósticos e no início de tratamentos.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que está ocorrendo um processo para fortalecer a regionalização e qualificar as ações de atenção básica, com objetivo de evitar que pacientes necessitem de internações hospitalares.
“A cobertura da atenção básica no Estado e em municípios de Santa Catarina é uma das maiores do país, com 79,87%, o que tem reduzido o número de internações por causas sensíveis de atenção básica e, consequentemente, de ocupação de leitos. Em nível estadual, a taxa de ocupação chega a 36,87% para leitos obstetrícios disponíveis ao SUS e 50,06% para leitos pediátricos”, diz a nota.
Em relação aos leitos privados, em todas as especialidades, o Estado teve um pequeno acréscimo de vagas nos últimos oito anos – subiu de 4.033 para 4.303, um avanço de 6,6%.
Obstetrícia é outra especialidade entre as mais afetadas por cortes
A segunda especialidade que mais sofreu queda de vagas de internação no SUS em SC foi a obstetrícia. Em 2018, em relação a 2010, foram 244 leitos a menos – redução de 16,9% e acima do país, que registrou queda de 14,4%.
O presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de SC, Ricardo Maia Samways, vê com preocupação esse cenário:
– A gente cansa de ver maternidades com superlotação, tanto no serviço público quanto no privado, com dificuldade de internar uma paciente em trabalho de parto.
Ele diz que com a humanização do nascimento, em que gestantes chegam a 36 horas de trabalho de parto, é fundamental a disponibilidade de mais leitos. Além disso, as vagas são essenciais para garantir a saúde da mãe e do bebê.
– Não estamos vivendo isso ainda em SC. Mas se nada for feito, vamos ter um colapso. A paciente precisa estar no seu leito, bem assistida, avaliada hora a hora para que nenhuma complicação ocorra.
Samways destaca que a maternidade em Tijucas, prevista para abrir em agosto com 21 leitos, deve amenizar o problema na Grande Florianópolis.
Fonte: DC
Foto: Leo Munhoz / Diário Catarinense