O cenário de superlotação e falta de leitos pediátricos e neonatais, que Campinas vive desde a última semana, é um problema anunciado pelo menos desde 2013, segundo dados do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). Já para o Sindicato dos Médicos de Campinas e Região (Sindimed) a situação “decorre principalmente da constante desassistência do governo federal ao sistema e pelo grave sucateamento da administração municipal aos profissionais.”
Em 2013, o Cremesp realizou um Estudo da Taxa de Ocupação e da Necessidade de Leitos de Terapia Intensiva Neonatal de Campinas e na Região Metropolitana da cidade (RMC). Na época, devido à carência de leitos intensivos neonatais na região, a UTI e UCI Neonatais do Caism da Unicamp já estavam funcionando acima da capacidade operacional “sem que tenha havido os devidos ajustes em seus parâmetros de recursos humanos”, indica a pesquisa.
Desde então, o estudo não foi repetido, já que, segundo a conselheira do Cremesp e coordenadora do levantamento, Silvia Helena Rondina Mateus, Campinas não ampliou nenhum leito sequer. “Não foi necessário fazer um novo estudo porque asituação da cidadenão mudou. Hoje ainda enfrentamos os mesmos problemas, mas com um inquérito civil público, aberto pelo Ministério Público e que acabou resultando em uma ação civil contra o Estado e a União, em breve teremos novos leitos no Hospital Estadual Sumaré Dr. Leandro Franceschini”, explicou a conselheira.
Em maio deste ano, de acordo com ela, foi expedida uma liminar judicial para que o Ministério da Saúde libere recursos para a implantação de dez leitos de UTI e 20 de UCI. “A ação foi do Ministério Público Federal”, completou.
Défict
Ainda segundo o Crememsmp, considerando que há pacientes encaminhados de outras cidades, Campinas deveria ter pelo menos o dobro de leitos neonatais, ou seja 170 vagas. De acordo com a Prefeitura, Campinas conta com 49 leitos do SUS de UTI Neonatal e 36 de UCI Neonatal. “Eles seriam suficientes se fossem apenas para os moradores da cidade, mas não é o que acontece, portanto, precisamos sim de mais leitos”, defendeu Sílvia.
Para a conselheira, a crise não deve ser contida com os as novas vagas. “No próximo ano devemos enfrentar os mesmos problemas, já que provavelmente grande parte desses leitos serão destinados a pacientes de outras cidades. Logo, o campineiro ainda ficará desassistido”, avaliou.
O estudo de 2013 revelou ainda que as cinco unidades vistoriadas na época: Caism–Unicamp, Hospital da PUC- Campinas, Maternidade, Hospital Estadual de Sumaré e Hospital Augusto de Oliveira Camargo (Indaiatuba) disponibilizam aos usuários dos serviços 82 leitos de UTI Neonatal, cadastrados na Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde, sendo que deste contingente 61 leitos estavam disponíveis ao SUS e 21 leitos sendo destinados a pacientes particulares e de convênios.
No período em que aconteceu a vistoria, foram contabilizados 66 leitos utilizados por pacientes SUS. “Essa situação deve ter piorado ainda mais, já que ainda estamos nos recuperando de uma grande crise econômica no País, e por consequência muitas pessoas perderam seus planos de saúde. Isso significa que a demanda do SUS aumentou ainda mais e deve crescer já que os índices de desemprego ainda estão altos”, explicou.
Orçamento
Assim como a Unicamp, segundo o estudo, a UTI Neonatal e a UCI Neonatal da Maternidade de Campinas “também estava funcionando com capacidades operacionais acima do que constam em seus respectivos cadastros do CNES, sem que tenha havido as devidas correções nos parâmetros de recursos humanos”, indica o relatório. O mesmo foi relatado sobre o Hospital da PUC-Campinas “Desde antes de 2013 e ainda hoje, existe um planejamento falho dos recursos da Saúde. Enquanto precisamos de leitos, parte do orçamento está sendo destinada, por exemplo, para práticas integrativas do SUS. É preciso, portanto, repensar esses investimentos e destinar melhor os recursos, senão jamais sairemos dessa situação. Precisamos de resultados efetivos e urgentes na Saúde”, disse a conselheira do Cremesp.
Fonte: Correio Popular – RAC