O Conselho Regional de Medicina (Cremesp) começou a organizar as análises sobre os 103 prontuários de pacientes que morreram no Hospital Municipal Ouro Verde, em Campinas, São Paulo, entre novembro e dezembro de 2017, período em que a administração da unidade passou da Organização Social (OS) Vitale para a Prefeitura. Os trabalhos foram solicitados pelo Ministério Público, que apura possíveis reflexos decorrentes de estrutura inadequada.
A médica Silvia Helena Rondina Mateus, conselheira do Cremesp à frente da delegacia da cidade, explica que cópias dos documentos devem ser divididas entre ela e outros sete integrantes da entidade. Além disso, ela espera envio de prontuários dos meses de janeiro e fevereiro deste ano, segundo ela já solicitados para a Rede Mário Gatti, responsável pela gestão da unidade.
“Muitas coisas precisam ser avaliadas. A gente precisa ver o mais rápido possível“, falou ao estimar prazo de quatro meses para enviar a análise completa para a promotora de Justiça Cristiane Hillal. Segundo a médica, um documento será usado como referência pelo conselho e o objetivo é verificar se algum óbito foi decorrente da falta pessoal ou materiais na unidade.
O inquérito foi aberto pelo MP para verificar as condições de atendimento do hospital e providências do governo após vir à tona apuração do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) sobre suposto desvio de R$ 4,5 milhões por grupo ligado à OS – à frente do hospital municipal entre maio de 2016 e novembro de 2017. Dez pessoas são acusadas de envolvimento no esquema e três delas deixaram a cadeia para cumprir prisão domiciliar.
Próxima etapa
De acordo com Silvia Helena, na segunda fase de trabalho o grupo deve escolher um mês específico para que também seja avaliado o período entre 2008 e 2016 – quando a administração do Ouro Verde era realizada pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM).
“Caso seja identificada alguma irregularidade, sindicâncias serão abertas“, explica a médica ao lembrar que as apurações internas podem ser feitas em paralelo ao inquérito do MP.
A unidade é a principal porta de entrada via SUS para os moradores das áreas do Campo Grande e Ouro Verde, que concentram um terço da população da metrópole de 1,1 milhão de habitantes e incluem os bairros mais carentes de infraestrutura. Ela faz cerca de 85 mil procedimentos por mês, entre eles, atendimentos ambulatoriais e de pronto-socorro, internações e cirurgias.
Esforços
A assessoria da Prefeitura informou, em nota, que está à disposição do MP para prestar qualquer tipo de esclarecimento. Além disso, ressaltou que a Rede Mário Gatti tem feito todos os esforços para melhorar e promover um bom atendimento à população no Hospital Ouro Verde.
À época em que o inquérito foi mantido, a SPDM destacou qualidade do trabalho realizado.
“Gerenciamos o Complexo Hospitalar Ouro Verde pelo período de 8 anos, entre 2008 e 2016, sem medir esforços para manter o atendimento dentro dos padrões de qualidade, respeito e segurança ao paciente, atuando de acordo com o volume de recursos públicos que nos foram destinados e cumprindo as metas do contrato de gestão firmado com a Prefeitura de Campinas“, destaca a nota. A SPDM lembra ainda que a gestão foi fiscalizada e não foram apontadas irregularidades.
O site de notícias G1 não conseguiu contato com a defesa ou representantes da Vitale até esta publicação.
Fonte: G1 / Foto: Fernando Pacífico / G1