Cerca de 10% das pessoas que foram ao hospital por tuberculose já haviam tido a doença, mas abandonaram o tratamento anterior, mostram dados do Ministério da Saúde. A terapia para a tuberculose é longa para se certificar da eliminação do bacilo de Koch (bactéria causadora da doença). Pacientes precisam tomar medicamentos diários por seis meses — o que poderia explicar a elevada taxa de retratamento por abandono.
Além da maior mortalidade e do retorno dos casos, o abandono ao tratamento traz dois impactos: maiores custos ao sistema de saúde e maior possibilidade de bactérias resistentes, indica Júlio Croda, infectologista, vice-presidente da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose e pesquisador da Fiocruz.
“Normalmente, a taxa de cura com a terapia completa é de 95%. Quando a pessoa abandona o tratamento e a bactéria se torna resistente, esse índice cai para 50%, com perspectiva de maior mortalidade e maiores custos para o sistema de saúde“, afirma o infectologista.
Uma das possibilidades para melhorar a adesão à terapia, diz Croda, é o investimento em uma maior cobertura do tratamento supervisionado, quando agentes de saúde se certificam que o paciente está tomando o medicamento.
segundo Júlio, o Brasil tem uma taxa importante de abandono, mesmo com o advento da droga quatro em um. Investimentos precisam ser feitos para diminuir esse índice, um deles é a ingestão supervisionada de medicamento.
A ação da ingestão supervisionada, diz o pesquisador, é feita por agentes de saúde no programa Estratégia Saúde da Família no SUS, por exemplo. “Enquanto você não tem um tratamento em menor tempo, esse é o fator que mais tem contribuído para a adesão“, explica Croda.
No geral, o Brasil registrou 69,5 mil casos novos da doença em 2017. Desses, 13.347 são de pessoas que voltaram ao sistema de saúde após deixarem o tratamento ou terem algum insucesso da terapia. Hoje, o Brasil tem 33,5 casos de tuberculose a cada 100 mil habitantes, número acima da meta preconizada pela Organização de Mundial de Saúde (de 10 casos/100 mil).
Mortes e população carcerária
Em relação às mortes, o país registrou 4.426 óbitos por tuberculose em 2016. Os dados divulgados pelo Ministério da Saúde mostram, no entanto, uma sutil baixa da mortalidade com o passar dos anos: há uma redução média anual de 2% na mortes de 2007 a 2016.
Apesar da diminuição, a pasta considera que a tuberculose ainda é um problema de saúde pública no país; e, por isso, lançou em 2017, o “Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose como Problema de Saúde Pública“. O plano estabeleceu, por exemplo, os testes rápidos para acelerar o diagnóstico da condição e diversas estratégias para chegar à meta de incidência recomendada pela OMS.
O Brasil tem o compromisso de reduzir a mortalidade para menos de 1 óbito por 100 mil habitantes até 2035.
Algumas populações mais vulneráveis também apresentam maior incidência e podem estar contribuindo para uma parcela do número de casos. A população privada de liberdade, por exemplo, responde por 10% dos casos; e, por isso, está sendo alvo de projeto específico lançado na quarta-feira (6) pelo Ministério da Saúde.
“A prisão funciona como uma instituição amplificadora. O preso adquire tuberculose dentro da prisão e transmite para a comunidade. Calculamos que 20% dos casos hoje estão relacionados ao sistema prisional, quando a população carcerária representa só 0,3% da população“, afirma Júlio.
O pesquisador explica que a superlotação das prisões facilitam a transmissão. Ele estima que a incidência em pessoas privadas de liberdade chega a ser 30 vezes superior que na população em geral. Também há menos diagnósticos e menor quantidade de médicos para a população encarcerada.
“Na prisão brasileira, a taxa de cura média é superior que na comunidade. A questão principal são as condições de encarceramento e a falta de diagnóstico precoce que favorece a uma maior transmissão”, explica.
Retratamentos
Os estados com maior proporção de pessoas que tiveram que voltar a se tratar foram Rio Grande do Sul (23,3%), Rondônia (19,9%) e Paraíba (19,5%) em 2016
Nesse mesmo ano, o percentual de cura de casos novos foi 73%, maior do que se comparado ao ano de 2015 (71.9%). Os estados do Acre (84,2%), São Paulo (81,6%) e Amapá (81,7%) alcançaram os maiores percentuais de cura no mesmo ano.
As capitais com maior número de casos da tuberculose, em 2017, foram Manaus (104,7/100 mil hab.), Rio de Janeiro (88,5 /100 mil hab.) e Recife (85,5/100 mil hab.).
O Ministério da Saúde considera que “a situação da tuberculose nas capitais do país exige atenção, uma vez que 70,4% delas (n=19) apresentaram coeficiente de incidência superior ao registrado no país“, avalia o boletim feito pela Secretária de Vigilância do Ministério da Saúde.
Avanços e HIV
Após o lançamento do Plano do Fim da Tuberculose, 71,4% dos casos fizeram diagnóstico por confirmação laboratorial em 2017.
No mesmo ano, 73,4% dos casos foram testados para o HIV, diz o Ministério da Saúde.
A testagem para o HIV identificou que 9,2% dos casos novos de tuberculose eram de pessoas que também eram soropositivas para o HIV.
Fonte: Bem Estar – Foto: Sesa/Divulgação