m estudo técnico que pretende buscar uma saída para a crise do Hospital Beneficência Portuguesa de Porto Alegre teve início nesta quarta-feira (14) e deve durar três meses. A consultoria será realizada por uma equipe do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, considerado uma instituição de excelência pelo Ministério da Saúde.
A missão dos técnicos é fazer um levantamento da situação do Beneficência Portuguesa, que desde novembro de 2017 não atende mais pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e também teve o contrato com a Prefeitura de Porto Alegre encerrado em dezembro do ano passado.
De acordo com o diretor-executivo do Hospital Sírio-Libanês, Fernando Torelly, o trabalho vai analisar o histórico do Hospital da Beneficência Portuguesa nos últimos anos, a partir da sua estrutura atual, das necessidades, as dívidas e, principalmente, o potencial futuro da instituição de saúde.
“Nosso trabalho técnico independe da operação da instituição. Mesmo que não tenha nenhum paciente internado, o trabalho vai ser executado da mesma forma, porque esse hospital tem uma história. Então, tem como planejar o futuro olhando para os meses onde o Hospital Beneficência Portuguesa efetivamente atendia um número significativo de pacientes”, afirma.
A equipe do Hospital Sírio-Libanês tem 90 dias pra apresentar o diagnóstico operacional. Esse trabalho vai apontar o perfil de atendimento do Beneficência e também indicar os caminhos para que a estrutura centenária possa continuar funcionando.
No Rio Grande do Sul, um suporte semelhante de consultoria foi feito recentemente pelo próprio Sírio-Libanês ao Hospital Regional de Santa Maria, na Região Central do estado. O secretário estadual da Saúde, João Gabbardo dos Reis, diz que apesar da boa vontade da equipe do hospital paulista é necessário que haja investimento de alguma instituição privada para que o Beneficência Portuguesa consiga superar a crise.
“Eu vejo como um desafio enorme. É muito grande a dificuldade, o passivo, a dívida é muito grande e o hospital precisa de uma série de investimentos para poder ser liberado pela Vigilância Sanitária. Tem uma série de questões estruturais que não estão resolvidas, e tudo isso tem que ser levado em consideração”, ressalta o secretário.
O hospital localizado na Avenida Independência, na Região Central de Porto Alegre, busca desde o ano passado alternativas para não fechar as portas. Sem dinheiro, os funcionários ficaram meses sem receber os salários e o número de pacientes teve uma queda brusca.
Dos 187 leitos, 116 deveriam ser destinados a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), em tratamentos de alta e média complexidade. Hoje, a instituição tem apenas três pessoas internadas e não recebe mais nenhuma.
A crise financeira do Beneficência Portuguesa, uma instituição filantrópica referência em atendimentos neurológicos, aumentou a partir do fim do contrato com a prefeitura da capital gaúcha, que não estava sendo cumprido, no início de dezembro. O Executivo Municipal pagava cerca de R$ 1,4 milhão por mês ao hospital para ter à disposição da população 116 leitos e aproximadamente 320 internações, mas o serviço não estava sendo prestado.
Até mesmo a Cruz Vermelha se disponibilizou a auxiliar o Beneficência Portuguesa. Para isso, a abertura de leitos psiquiátricos foi analisada como uma das alternativas para manter aberto o hospital. A direção da instituição usa o pagamento de serviços prestados ainda no ano passado para convênios e particulares como forma de evitar o fechamento da instituição.
A Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) também apresentou uma proposta de tornar o Beneficência Portuguesa um hospital-escola. A mudança permitira a expansão da residência médica para os alunos de 16 cursos, que hoje fazem a prática apenas na Santa Casa. Assim, garantiria recursos federais para manter o funcionamento dos 186 leitos do SUS.
Além disso, uma frente parlamentar na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, com o apoio de 32 deputados, foi lançada em dezembro com o objetivo de buscar uma saída para colocar em dia os salários e manter o hospital funcionando.
O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) diz que o fim dos trabalhos no Benefiência Portuguesa vai impactar a vida dos pacientes de todo o estado. Por isso, o sindicato busca parcerias públicas e privadas para viabilizar a continuidade do trabalho da instituição.
“Sistematicamente, se tem a comprovação de leitos se fechando na cidade de Porto Alegre. E o fechamento desse equipamento de saúde, que é o Hospital Beneficência Portuguesa, traz um prejuízo enorme à nossa população, que já não tem leito hospitalar”, comenta a vice-presidente do Simers, Maria Rita de Assis Brasil.
Fonte: G1