Um dos maiores hospitais da região metropolitana de Porto Alegre está sangrando. Desde 2012, quando ocorreu a interdição ética pelo CREMERS, o Hospital Centenário, em São Leopoldo, mantém-se à margem das prioridades da prefeitura local. Desde lá, o Simers fiscaliza o cumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) formalizado no Ministério público, para garantir a resolução de problemas como a insuficiência de profissionais, a falta de estrutura e de insumos básicos.
Seis anos depois, porém, o TAC vem sendo recorrentemente descumprido. E o pior: novos problemas começam a se somar àqueles que já haviam sido diagnosticados. Algumas áreas do hospital estão cada vez mais deficitárias em estrutura e recursos. E algumas empresas terceirizadas que contratam médicos estão sem pagamento há seis meses. Somente uma delas acumula uma dívida de aproximadamente R$1,5 milhão perante a instituição.
Mesmo diante de todas essas dificuldades, os médicos seguem trabalhando para atender da melhor forma possível a população. A prioridade, agora, é evitar que o Centenário seja fechado em uma região que já sofre para prover um atendimento de qualidade aos pacientes do SUS.
Trata-se de uma luta complexa. A direção do hospital, que segue as orientações do poder público local, em vez de lutar para aumentar r sua série história e, então, garantir a ampliação de repasses, tem optado por reduzir os serviços oferecidos – com a alegação de que é necessário se ajustar à redução nos repasses de recursos da União e do Estado.
Atualmente, há um número bem abaixo de médicos clínicos para um hospital de grande porte como é o Centenário. Falta um cirurgião, e as vagas abertas – por conta de profissionais que se aposentam ou saem – não estão sendo preenchidas. O resultado, segundo os médicos , é uma série de episódios críticos para a população. Nos dias que anteviram o Natal, não havia pediatras na instituição, tanto que uma criança em quadro grave de saúde precisou ser atendida por profissionais que estavam no plantão da UTI Neonatal.
Outro problema que persiste é a suspensão do setor de neurocirurgia, que contemplava toda a região. Hoje, a área recebe somente pacientes de São Leopoldo, através de um plantão por sobreaviso. Muitas vezes, há desassistência para pacientes de municípios vizinhos.
Para a diretora do Simers Clarissa Bassin, esses e outros problemas têm a mesma causa: a má gestão. “A Fundação Hospital Centenário é o típico exemplo de má gestão, somada ao desconhecimento da área da saúde. É inadmissível ver a prefeitura atuando como se quisesse fechar e reduzir o atendimento do único hospital da cidade, que já foi referência na região e fez parte da vida profissional de gerações de médicos. O que temos aqui é um somatório de incompetência histórica na gestão”, afirma Clarissa.
A diretora do Simers entende que a solução para o Centenário é ampliar – e não reduzir – os serviços. “A instituição deveria ofertar melhor esses serviços e contratar mais médicos. Não há como fazer uma recuperação orçamentária e financeira fechando serviços”, salienta.
O Simers continuará denunciando junto ao Ministério Público e reforça a necessidade de que a gestão apresente um plano concreto de recuperação do Centenário.
A administração do Hospital Centenário alega que a causa dos problemas é a falta de repasses do governo estadual. Entretanto, em meados de 2008, a gestão municipal – a mesma que está no governo atualmente – não contratualizou o recebimento destes recursos com o Estado, indo na contramão do que outros municípios fizeram na ocasião.
Reunião com a gestão do Hospital Centenário
Em reunião com representantes do Simers, no final de dezembro, a administração do Centenário informou que estão sendo realizados encontros mensais com a Unisinos (Universidade do Vale dos Sinos). O objetivo é que a universidade auxilie na recuperação da instituição, transformando-o em um hospital-escola a partir de 2019. Para isso, a direção do hospital está procurando se adequar aos termos da Portaria Ministerial 285/15 que redefine o programa de hospitais de ensino. Outra ideia para sanar os problemas seria redimensionar algumas áreas do hospital. O Simers irá agendar outros encontros com a prefeitura e gestão da casa de saúde.
Fonte: SIMERS
Foto: Stephany Sander/ Correio do Povo