Boletim do Ministério da Saúde divulgado nesta terça-feira, 16 de janeiro, aponta que os casos notificados de febre amarela aumentaram 42% no país em apenas 20 dias. Passaram de 330 registros, de julho do ano passado a 26 de dezembro, para 470 no último levantamento, até 14 de janeiro. No mesmo período, as confirmações saltaram de quatro para 35 casos, enquanto o número de mortos subiu de um para 20.
Apesar do ritmo acelerado do aumento dos registros e da decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de estender a todo o estado de São Paulo a recomendação de vacinação a turistas, o governo brasileiro afirmou que manterá a estratégia adotada até então, focada na vacinação emergencial com dose fracionada a partes de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. A ideia é conter o avanço da doença com a imunização em áreas de risco.
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Antonio Nardi, classificou a decisão da OMS como “excesso de zelo”. Ele disse que a medida foi discutida anteriormente com o governo brasileiro e manifestou apoio à “cautela” da organização internacional.
— É um excesso de zelo o que a OMS está colocando para que todos os viajantes internacionais que venham ao estado de São Paulo, independentemente da sua área de circulação, estejam vacinados — afirmou Nardi.
Segundo ele, o “excesso de zelo” na epidemiologia serve para se antecipar a um evento que pode ocorrer e se enquadraria na decisão de fracionar a vacina para fazer a campanha emergencial. Nardi afirmou, porém, que a nova recomendação da OMS não modifica a estratégia de vacinação rápida e reforçada nos três estados.
Nardi chegou a mencionar um “surto” nos estados que receberão a vacina fracionada, mas negou que a situação já possa ser classificada dessa maneira quando questionado. Segundo ele, o que existe atualmente é “um aumento do número de casos e da circulação viral”. Perguntado sobre qual é o parâmetro epidemiológico para indicar um surto, tergiversou:
— Quando há um registro astronômico. E nós estamos falando, de agosto de 2017 a janeiro de 218, em 35 casos confirmados e 20 óbitos.
O secretário-executivo, que representou o ministro Ricardo Barros, atualmente fora do país, não revelou o atual estoque da vacina de febre amarela no país. O Ministério da Saúde se nega a informar o dado, alegando ser uma informação estratégica preservada por todos os países – mesmo argumento usado por Nardi.
Ele afirmou, entretanto, que o governo federal tem vacinas em quantidade suficiente para imunizar, de forma fracionada, toda a população brasileira se preciso fosse. Uma vacinação geral, porém, está descartada dentro da estratégia do governo.
Nardi também afirmou que o plano de produzir 48 milhões de doses da vacina em 2018 atenderá as necessidades do país, embora o montante seja menor que o do ano passado, de 60 milhões. De acordo com ele, é preciso levar em consideração a fabricação de outros imunizantes, como a tríplice viral, que faz parte do calendário nacional de vacinação.
— Se eu hoje fosse colocar a Fiocruz exclusivamente para a produção da vacina da febre amarela, poderia comprometer outra vacina que ficaria desabastecida no mercado.
Nardi acrescentou que o órgão comprou no ano passado 20 milhões de seringas que serão usadas na estratégia de vacinação emergencial. Segundo ele, antes de mandar as doses extras aos estados, é preciso analisar as condições de armazenagem, já que o imunizante precisa ficar refrigerado.
De acordo com o boletim, o Rio de Janeiro tem oito casos notificados, dos quais três foram confirmados, e uma morte. Os dados, segundo o Ministério da Saúde, são atualizados uma vez por semana com informações recebidas das secretarias estaduais – o que explica a defasagem em relação a números divulgados pelos órgãos locais.
Fonte: O Globo
Foto: Michel Filho / Agência O Globo