Hospital Beneficência Portuguesa, na Região Central de Porto Alegre, está prestes a fechar as portas. A prefeitura rescindiu o contrato com a instituição. E sem dinheiro, os funcionários estão sem receber há meses e o número de pacientes está caindo cada vez mais.
Dos 187 leitos, 116 deveriam ser destinados a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), em tratamentos de alta e média complexidade. Hoje, a instituição tem apenas três pessoas internadas e não recebe mais nenhum.
A crise financeira do Beneficência Portuguesa, uma instituição filantrópica referência em atendimentos neurológicos, se agravou nos últimos meses. O estopim foi o fim do contrato com a prefeitura, na última semana.
O Executivo Municipal pagava cerca de R$ 1,4 milhão por mês ao hospital para ter à disposição da população 116 leitos e aproximadamente 320 internações.
Porém, nos últimos meses, o hospital está reduzindo o atendimento. Chegou a atender apenas dois pacientes em um único mês. Por isso, a prefeitura decidiu rescindir o contrato.
“No melhor mês desses últimos quatro, nem 1/4 do contrato foi produzido”, afirma o secretário Municipal da Saúde, Enzo Harzheim. Os repasses, porém, foram feitos integralmente.
A direção do hospital não quis gravar entrevista com a RBS TV, e não fala porque não cumpriu o contrato e quais as dificuldades financeiras pelas quais está passando. Em nota, a instituição informou que o presidente executivo José Antônio Pereira de Souza deixou o cargo semana passada e que o posto foi assumido interinamente pelo presidente do Conselho Deliberativo, Augusto Veit.
O secretário de Saúde de Porto Alegre garante que as vagas fechadas no Beneficência Portuguesa vão ser absorvidas por outros hospitais.
“Fechar um hospital sempre é um impacto, mas do ponto de vista da internação pelo SUS, como há uma redução gradual de internações no Hospital Benefiência Portuguesa desde o fim de 2015, nós já organizamos a rede pra absorver essas internações nos outros prestadores hospitalares. Então, no momento, a população não vai sentir uma maior dificuldade por conseguir internações, porque já vinha uma produção muito baixa nesse hospital, e os pacientes já vinham sendo transferidos pra outros”, afirma Harzheim.
No entanto, o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) discorda. A entidade acredita que o fim dos trabalhos no Benefiência Portuguesa vai impactar a vida dos pacientes. A nota também reforça que o momento é difícil e que está buscando parcerias públicas e privadas.
“Sistematicamente, se tem a comprovação de leitos se fechando na cidade de Porto Alegre. E o fechamento desse equipamento de saúde, que é o Hospital Beneficência Portuguesa, traz um prejuízo enorme à nossa população, que já não tem leito hospitalar”, comenta a vice-presidente do Simers, Maria Rita de Assis Brasil.
Segundo o Simers, 269 leitos do SUS foram fechados em Porto Alegre nos últimos três anos. Se confirmar o fechamento do Beneficência Portuguesa, esse número vai saltar para 385.
“Eu sou médica de emergência, saí agora pela manhã de um plantão, onde pessoas internadas estavam sentadas em cadeiras, com patologias bastante graves e que não tem um leito hospitalar. Perder a possibilidade de leitos hospitalares num hospital como esse, que é plenamente viável, é dramático, não só para um profissional de saúde, como eu, mas fundamentalmente para a população, que muitas vezes fica internada em cadeiras ou dormindo sobre cobertores no chão das emergências hospitalares”, diz Maria Rita.
Hoje, conforme o Simers, cerca de 600 pessoas trabalham no hospital, sendo 300 médicos. Os salários desses profissionais estão atrasados há, pelo menos, quatro meses.
“É um hospital que vinha se deteriorando nos últimos tempos, mas que tinha a possibilidade de funcionar pleno, que tem a possibilidade de funcionar pleno”, considera a médica.
Fonte: G1
Foto: Reprodução/RBS TV