Pacientes soropositivos denunciam a falta de medicamentos nas farmácias de três hospitais públicos do Recife. A situação, que se estende há cerca de um mês, aconteceu também em março. Desde maio deste ano, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) pede na Justiça que a Secretaria de Saúde do Estado solucione o problema.
Segundo as denúncias, pelo menos oito medicações estão em falta na rede pública. Entre os medicamentos em falta estão o Dauronavir, o Ritonavir, o Biovir e o Efavirenz, no Hospital Universitário Oswaldo Cruz; o Dauronavir e o Efavirenz, no Hospital Correia Picanço; o Ritonavir, no Hospital Barão de Lucena; e também houve denúncias de falta de medicamento no Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP).
“Faz um mês e uma semana. Quando eu não vou pessoalmente, eu ligo. E é sempre a mesma história: não tem previsão, não chegou. Inclusive na hora não é só eu que vejo perguntando, outras pessoas chegam perguntando também”, conta uma paciente, que não quis se identificar.
Os medicamentos que estão em falta são chamados de antirretrovirais. Eles garantem saúde, qualidade de vida e diminuem o risco de transmissão do vírus HIV. Os soropositivos fazem uso diário de uma combinação de, no mínimo, três antirretrovirais para garantir o sucesso do tratamento.
A falta do medicamento pode acarretar no surgimento de sintomas da Aids em pacientes que vivem com o vírus HIV, além de atrapalhar o andamento do tratamento. “O vírus pode ficar resistente ao esquema. Os pacientes que não tiveram problemas com a medicação podem se readequar a outro esquema. Mas quem já teve resistência à medicação, toma um dos remédios que está em falta. E para eles não tem um plano B”, explica o chefe do setor de infectologia do Hospital Oswaldo Cruz, Demétrios Montenegro.
“Acho que eles deveriam pensar mais e serem mais humanos. Ter a consciência que eles estão acabando com a possibilidade que a gente tem de viver. Não só a minha, como a de muita gente que está sem tomar o medicamento. Praticamente estão assassinando as pessoas”, afirma uma paciente, que preferiu não ser identificada.
Distribuição
Os remédios para o tratamento da Aids/HIV são distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), através de um programa do Ministério de Saúde em parceria com os estados e municípios. Desde maio deste ano, o Ministério Público de Pernambuco pressiona o Governo do Estado para solucionar o problema da falta de medicação.
O Governo de Pernambuco culpa o Ministério da Saúde pela falta da medicação. O Ministério, por sua vez, nega problemas no repasse e afirma que o estado é que tem problemas na distribuição dos remédios.
A promotora de justiça Helena Capela, explica que a falta dos medicamentos pode gerar multas para o governo do estado. “Existe uma tutela antecipada obrigando o estado a fazer a correta alimentação do sistema e o pedido adequado às necessidades dos usuários do SUS. Quando o estado não segue essa proposição, ele está sujeito a uma multa diária no valor de vinte mil reais”, afirma.
A Secretaria de Saúde do Estado afirmou que a distribuição dos medicamentos será regularizada até o fim de semana.
Números
Pernambuco é o estado do Nordeste com mais pacientes que desenvolveram Aids desde o início da epidemia, em 1980, com quase 32 mil pessoas. Nos últimos 10 anos, entre 2007 e 2017, foram registrados 6.937 casos de HIV em Pernambuco. “Pernambuco é o primeiro estado em número de morte em decorrência da Aids. Muitos desses óbitos acontecem exatamente porque as pessoas não conseguem aderir ao medicamento. E um dos motivos da não adesão é essa falta constante de medicamento”, afirma a advogada da Gestos Soropositividade, Comunicação e Gênero, representante dos pacientes.
Fonte: G1
Foto: Reprodução/Rede Amazônica