Paraguai
“Neste momento nesta sala nós estamos com 100% de brasileiros, os paraguaios fazem parte do corpo da faculdade, mas eles são uma pequena minoria dado ao fato de que, mesmo sendo um valor mais conta para os brasileiros, ainda é muito alto para os paraguaios”, comenta o professor de uma universidade na Ciudad del Leste.
A mensalidade dos cursos de medicina no Paraguai chega a ser dez vezes mais barata que no Brasil. São R$ 600 contra cerca de R$ 6 mil em faculdades particulares no Brasil.
Elísia Maria Valadão, estudante de medicina, é do interior de Minas Gerais e deixou tudo no Brasil para estudar medicina no Paraguai. “É difícil também, porque você tem que passar do primeiro ano até o último, porque você sabe que vai enfrentar uma prova para revalidar o seu diploma. Se você não tiver levado a sério mesmo, você não vai passar e vai ser tudo em vão”, afirma.
A prova é o Revalida, criada em 2011 para agilizar os trâmites de entrada de médicos formados fora do país: 70% dos participantes são estrangeiros, e os brasileiros formados no exterior são 30%. Mas as inscrições não param de crescer. Eram 500 há cinco anos e hoje são quase três mil.
“Muitos destes cursos têm uma pequena parcela prática. A gente observa isso quando a gente faz algumas análises curriculares”, diz Mariângela Abrão, diretora de avaliação do Inep.
O revalida tem uma prova escrita e uma prova prática. Menos de 30% dos inscritos são aprovados. “O bom seria se nós pudéssemos, enquanto estado, oferecer a educação para todos”, conclui Abrão.
Rio de Janeiro
O Hospital Pedro Ernesto já teve 570 leitos. Nos últimos anos oferecia 250. Este mês o número de leitos foi reduzido para 170. “Em consequência da crise. Sem salário não temos garantia das equipes, sem isso não tem segurança para colocar doentes em todos os leitos”, declara Edmar Santos, diretor do hospital.
Henrique Machado está no segundo ano da residência médica no hospital universitário. Os alunos participam de todas as cirurgias. “A bolsa na Uerj é em torno de R$ 2.900 líquido. É triste, depois de seis formado, ter que ligar para os seus pais e pedir ajuda financeira”, conta Henrique Machado, médico residente.
Em São Gonçalo, Henrique trabalha em uma clínica particular, que faz atendimento a preços populares. É uma alternativa para quem quer fugir das filas do SUS. Ele ganha R$ 150 por hora de plantão.
O terceiro trabalho fica em Niterói. “Por conta do salário da residência, a gente precisa complementar a renda. Como a carga horária da residência em dia de semana é muito alta, a gente a gente acaba complementando no plantão de fim de semana em outros hospitais”, explica Machado.
Teófilo Otoni – Minas Gerais
Uma das propostas do Mais Médicos criado ainda no governo Dilma era aumentar a oferta de cursos de medicina no país. Foi assim que Teófilo Otoni recebeu em 2015 a Faculdade de Medicina da Universidade dos Vales do Jequitinhonha, em Mucuri – um curso voltado para a saúde básica. Os alunos e professores reforçam o atendimento dos bairros. A faculdade nasceu em um prédio improvisado, sem espaço para os laboratórios.
“A gente consegue fazer o curso funcionar mas não adianta eu dar uma visão poética de que está tudo bem, não. Poderia ser muito melhor. Você está vendo o quanto que uma telha desta esquenta, existe a questão de conservação do material de laboratório que deveria estar sob climatização, mas a gente vem tentando fazer da melhor maneira possível e atende à demanda. O problema é que a demanda do curso está crescendo. O curso está avançando e os espaços são esses”, declara Patrick Wander Endlich, diretor da faculdade.
Além do problema do espaço físico, o diretor do curso ainda tem que lidar com a falta de médicos da cidade para dar aulas. “É um desafio conseguir professores para a faculdade”, afirma.
Na sala de aula, muitos alunos demonstram interesse em se manter na cidade como profissionais formados. “A conclusão é que eu acho que a gente está caminhando para o nosso objetivo, que é formar alunos e médicos, a fixação no local e a modificação da realidade de saúde por meio da educação”, avalia o diretor.
Os primeiros médicos da faculdade serão formados em 2020, mas antes disso os alunos frequentam aulas que vão das sete da manhã as seis da tarde e ainda enfrentam os desafios de uma faculdade nova. “Talvez um diferencial da faculdade que faz a gente querer ficar aqui é ver o quanto os alunos estão empenhados em fazer a faculdade crescer”. Aluna
Uma comissão de alunos da faculdade pressiona a reitoria pela construção de um novo prédio. No dia 7 de dezembro do ano passado foi divulgado que o ministro da educação teria liberado R$ 5 milhões para a construção de um prédio anexo. O Ministério Público Federal não quis se manifestar. A reitoria da universidade afirma que recebeu R$ 21 milhões do programa mais Médicos em 2013 e 2014. Mas que não conseguiu utilizar os recursos de prédios próprios em razão das dificuldades dos processos licitatórios. Em 2016 o ministério da educação liberou R$ 5 milhões usados para pagar dívidas da universidade. Com verbas bloqueadas neste não a reitoria afirma que não conseguiu honrar o compromisso com os alunos de construir o prédio em 2017, mas prometeu iniciar a licitação do novo prédio no primeiro semestre de 2018.
São Paulo
Depois do plano de demissão voluntária da Universidade de São Paulo, o Hospital Universitário perdeu 406 funcionários. A falta de médicos fechou o atendimento do pronto-socorro infantil e 40% dos leitos de UTI.
A crise no HU motivou uma greve e de alunos de medicina da USP, uma das faculdades mais disputadas do país. A faculdade decidiu que não iria repor as aulas perdidas, com a greve
O HU no campo da USP, no bairro do Butantã, atende uma população mais carente que o Hospital das Clínicas – de alta complexidade – que forma com a Faculdade de Medicina o maior complexo de saúde do Brasil.
Só consultas agendadas e pacientes encaminhados de outras unidades de saúde recebem atendimento no HU USP. Essa semana a Assembleia Legislativa de São Paulo vota o orçamento de 2018. Uma das propostas para o HU é de uma verba adicional de R$ 50 milhões, vindas de royalties do petróleo. Se aprovada, poderia seguir significar a contratação de 340 novos funcionários O reitor da USP não quis dar entrevista para a nossa reportagem.
Eunápolis – Salvador (BA)
Em Eunápolis, município de 115 mil habitantes ao sul da Bahia, foi uma das cidades autorizadas pelo Ministério da Educação a receber um curso de medicina, a autorização é de 2014, mas até hoje a faculdade não chegou. “Faltam médicos aqui como em todos Brasil, principalmente no Nordeste, sempre nós temos muita dificuldade médica hoje nós temos 17 cubanos Neto Guerriere, ex-prefeito de Eunápolis.
Guerriere diz que para ter o curso aprovado na época o governo federal exigiu várias melhorias na rede de saúde “Tudo dentro do hospital foi mudado de lavanderia a estrutura. Para que pudesse ser credenciado pelo MEC”.
O Hospital Regional de Eunápolis será o hospital escola. O vestibular para aa faculdade foi anunciado para o início do ano mas até agora nada. De acordo com o Ministério da Educação, a Faculdade Pitágoras anunciou o vestibular de maneira irregular e se não cumprir os requisitos para abrir o curso em seis meses, a autorização será cancelada. A faculdade não quis dar entrevista.
As associações médicas pressionam o governo pela suspensão de novos cursos. “Se estão pensando em interiorizar a medicina, não é por aí. Não é a solução criar tantas faculdades assim, mas a gente fica muito preocupado exatamente com a qualidade de ensino médico que está sendo praticado. O que falta é uma redistribuição dos médicos. Tem locais que tem médicos até demais, outros de menos, tem que redistribuí-los. ”, avalia Raymundo Leal Junior, delegado do CREMEB.
O ministério da Educação vai ficar três anos sem autorizar novos cursos de medicina. “Nós estamos falando de um ambiente político e um acadêmico. No acadêmico há a necessidade premente, óbvio, sempre, da revisão. No ambiente político nos temos a pressão de várias associações de várias matrizes possíveis, seja dos médicos, advogados, enfermeiros, pedagogos todo mundo quer o melhor para a sua profissão, comenta Henrique Sartori, secretário de regulação da educação superior.
“Hoje nós temos mais de 30 mil vagas de medicina autorizadas nos Brasil, que essa revisitação, que essa reflexão da formação médica, sirva para levar mais qualidade, ou pelo menos fazer a reflexão de onde realmente necessita dessa formação ou desse profissional no interior do Brasil”, conclui Sartori.
Fonte: G1
Foto: Quero Bolsa