O Brasil registrou 2.362 transplantes de medula óssea em 2016, um aumento de 27% em relação a 2015, o que possibilitou um recorde desse procedimento entre pessoas que não são da mesma família. Em todo o país, são 70 centros para transplantes de medula óssea – 30 deles realizam transplantes com doadores não aparentados – distribuídos por oito estados brasileiros e no Distrito Federal. O país tem o terceiro maior cadastro de doadores do mundo, com 4.442.085 de pessoas.
O diretor do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e atual coordenador Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME), Luis Fernando Bouzas, afirmou que, atualmente, a chance de um paciente que necessite de transplante de medula óssea encontrar um doador compatível é de mais de 90%. “O REDOME é o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo”, contou Bouzas em entrevista para o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro. Só este ano, até o mês de abril, já foram realizados 118 transplantes não aparentados no Brasil.
De acordo com o Ministério da Saúde, em 2016, 550 pacientes aguardavam por um doador de medula compatível. E essa compatibilidade pode ser de 1 para 100 mil e até mais, dependendo da etnia. Por esse motivo campanhas, como a The Hardest Run, são fundamentais. “Elas garantem que o tema seja divulgado através dos veículos de comunicação e redes sociais, promovendo não apenas o cadastramento de novos doadores, mas também a conscientização dos doadores já cadastrados sobre a importância de manter seus dados atualizados”, conta Danielli Oliveira – médica hematologista do INCA e coordenadora técnica do REDOME/REREME.
História
O transplante de medula óssea foi implantado há 70 anos no Brasil e, nos primeiros 20 anos, teve a questão da compatibilidade e de como é feito o procedimento como principais anseios da população.
Nas décadas de 70 e 80, o material genético só era coletado e o transplante realizado entre irmãos compatíveis. A chance de encontrar essa compatibilidade era de 40%. Nos anos 1990, veio a notícia de que era possível encontrar doadores compatíveis que não fossem da mesma família (o chamado doador não-aparentado ou não-relacionado) e muitos pacientes se beneficiaram. Nessa mesma época surgem os primeiros registros de doadores nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME) foi criado pelo médico José Roberto Feresin Moraes, em 1993. Sem suporte do Inca e do Ministério da Saúde, Moraes batalhou sozinho cinco anos e cadastrou 8.000 doadores. Tempos depois, o Ministério da Saúde se envolveu de forma ativa no programa com um trabalho de comunicação e organização para aumentar o cadastro. Só a partir de 2009, o Brasil foi liberado para doar e receber medula de outros países.
Como é feito o cadastro?
Para se cadastrar como doador, é preciso ter entre 18 e 55 anos de idade e boa saúde. A exceção na faixa etária é feita em casos em que o doador é uma criança irmã do receptor. O candidato a doador deve procurar o hemocentro mais próximo de sua casa para esclarecer dúvidas e, com a decisão tomada, coletar uma amostra de sangue (10ml) para a tipagem de HLA (exame de histocompatibilidade que identifica as características genéticas de cada indivíduo). Os dados do doador são inseridos no cadastro do REDOME e, sempre que surgir um novo paciente, a compatibilidade será verificada. Uma vez confirmada, o doador será consultado para decidir sobre a doação. Todo o procedimento – desde a coleta de sangue para cadastro até o transplante, é custeado pelo governo federal. Se um paciente do sistema, público ou particular, de saúde precisar de um transplante de medula é responsabilidade do REDOME encontrar um doador compatível.
Além do cadastro para se tornar doador, outras ações importantes para ajudar na sobrevida dos pacientes que precisam do transplante são a doação de sangue, plaquetas e granulócitos. “Essa é uma grande ajuda no tratamento desses pacientes. Somente no Hospital Nossa Senhora das Graças, em média, 400 bolsas de sangue e 800 de plaquetas são utilizadas todos os meses”, conta Flaviano Feu Ventorim, diretor executivo Hospital Nossa Senhora das Graças, que reforça que a doação de plaquetas é destinada principalmente para pacientes com leucemias, tumores e transplantados em tratamento com quimioterapia. “Não podemos esquecer que doar sangue e derivados irá ajudar muitas pessoas portadoras de várias doenças e vítimas de acidentes”, finaliza Ventorim.
Como é feito o transplante?
Se os resultados dos exames do doador forem compatíveis ao de um paciente que precisa do transplante, ele é chamado para realizar exames complementares que confirmem a compatibilidade e a ausência de doenças que impeçam a doação. O tipo de transplante de medula óssea acontece de duas formas:
Coleta direta: tipo mais comum que leva, em média, duas horas. O doador passa por uma pequena cirurgia, na qual recebe anestesia geral ou local. São feitas de quatro a oito punções nos ossos da bacia para aspirar parte da medula, com retirada de 15 ml do volume da medula por quilo do peso do doador. Essas células retiradas são acomodadas em uma bolsa especial, congeladas e transportadas em condições específicas até o local do transplante.
Coleta por aférese: o doador utiliza medicação alguns dias antes para aumentar o número de células-tronco no sangue. A doação acontece por meio de uma máquina que colhe o sangue da veia, separa as células-tronco e devolve os elementos do sangue que não são necessários. Não há necessidade de internação, nem de anestesia.
A decisão sobre o tipo de doação é exclusiva dos médicos e varia de acordo com a situação do paciente. A medula óssea do doador se recompõe em apenas 15 dias. Ele permanece internado por um dia e após uma semana pode retornar às suas atividades habituais. Nos primeiros três dias, é comum sentir um desconforto de leve a moderado, tratado com o uso de analgésicos.
O paciente que receberá a medula deverá fazer tratamento quimioterápico e/ou radioterápico alguns dias antes de receber a nova medula. Por este motivo, todo o procedimento é agendado.
Fonte: Gazeta do Povo