O câncer de próstata (CaP) permanece como a neoplasia sólida mais comum e a segunda maior causa de óbito oncológico no sexo masculino. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) foram estimados 61.200 novos casos em 2016/2017 no Brasil, constituindo o tipo de câncer mais incidente nos homens (excetuando-se o câncer de pele não-melanoma) em todas as regiões do país, com 28,6% dos casos. Apesar dos avanços terapêuticos, cerca de 25% dos pacientes com câncer de próstata ainda morrem devido à doença. (1) Atualmente, cerca de 20% ainda são diagnosticados em estágios avançados, embora um declínio importante tenha ocorrido nas últimas décadas em decorrência, principalmente, de políticas de rastreamento da doença e maior conscientização da população masculina. (2)
O rastreamento universal de toda população masculina (sem considerar idade, raça e história familiar) apresenta controvérsias, pois pode diagnosticar, entre outros, câncer de próstata de baixa agressividade que não necessita de tratamento, cujos pacientes são submetidos a biopsias, que têm potencial de complicações (infecção local). Individualizar a abordagem é fundamental neste sentido. A identificação de pacientes com risco de desenvolver a doença de forma mais agressiva, através de parâmetros clínicos ou laboratoriais, pode ajudar a individualizar a indicação e frequência do rastreamento. Entre diversos fatores, a idade, a raça e a história familiar apresentam-se como os mais importantes (3). Análise recente de dois estudos avaliando tardiamente os resultados quanto à mortalidade câncer-específica mostra vantagem a favor desses programas com diminuição da taxa de mortalidade de 25% a 31% (estudo ERSPC) e de 27% a 32% (estudo PLCO) em comparação aos pacientes que não foram randomizados. (4).
Para pacientes diagnosticados com tumores de baixo risco a visão contemporânea é o oferecimento do regime de observação vigilante como conduta e consiste de avaliações periódicas por meio de toque retal e dosagens do PSA, reservando-se a ressonância magnética da pelve e/ou biópsia prostática para ser realizada em intervalos variados. O tratamento definitivo deve ser indicado caso seja identificada progressão da doença em pacientes com expectativa de vida maior que 10(dez) anos, poupando pacientes com tumores “indolentes” das conseqüências do tratamento.
Por outro lado, pacientes portadores de tumores classificados como de risco de progressão alto ou moderado podem, em fases iniciais, serem adequadamente tratados e curados.
Como esperado, as consequências da equivocada resolução da U.S. Preventive Services Task Force (USPSTF, EUA, 2011), contrária ao rastreamento sistemático, começam a aparecer. Trabalho apresentado no “2015 Genitourinary Cancers Symposium” provocou ainda mais discussão sobre o tema e reforçou o papel do rastreamento. Foram avaliados retrospectivamente 87.562 novos casos diagnosticados entre 2003 e 2013 em 150 instituições nos EUA. Demonstrou-se que após a recomendação da U.S. Preventive Services Task Force houve aumento de 3% ao ano no diagnóstico de tumores de risco intermediário e de alto risco. (3) Outra publicação recente mostrou redução no número de diagnósticos de tumores agressivos, o que cria preocupação de que o diagnóstico tardio em casos de câncer de próstata de alto risco possa acarretar maior impacto para a saúde pública e resultados oncológicos no futuro.(5)
A Sociedade Brasileira de Urologia mantém sua recomendação de que homens a partir de 50 anos devem procurar um profissional especializado, para avaliação individualizada. Aqueles da raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata devem começar aos 45 anos. O rastreamento deverá ser realizado após ampla discussão de riscos e potenciais benefícios. Após os 75 anos poderá ser realizado apenas para aqueles com expectativa de vida acima de 10 anos.
Dúvidas frequentes
O que é a próstata? A próstata é uma glândula localizada na região pélvica do homem, apresentando um formato semelhante à de uma noz. Situa-se logo abaixo da bexiga e à frente do reto, sendo atravessada pela uretra, canal que se estende desde a bexiga até a extremidade do pênis e por onde a urina é eliminada.
Qual a função da próstata? A principal função da próstata é produzir uma secreção fluida para nutrição e transporte dos espermatozoides, que são originados nos testículos e levados até a vesícula seminal através dos ductos deferentes. Juntamente com as secreções das vesículas seminais e das glândulas periuretrais, constituem o sêmen, que é o líquido expelido durante a ejaculação. Durante a ejaculação ocorre contração da vesícula seminal e eliminação do sêmen através dos ductos ejaculadores que passam pela próstata e desembocam na uretra.
O que é o câncer de próstata? É uma doença, na qual as células prostáticas podem sofrer modificações moleculares e se multiplicarem de forma descontrolada, podendo avançar e atingir outros órgãos, localmente ou à distância.
Sintomas: Em geral, apresenta crescimento muito lento, podendo levar anos para causar algum problema mais sério. Nas fases iniciais, se apresenta silencioso, não causando nenhum sintoma específico. Com seu crescimento, pode causar sintomas urinários obstrutivos (diminuição do jato urinário, gotejamento após a micção, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga, micção em dois tempos, retenção urinária) e/ou irritativos (aumento da frequência urinária, urgência, incontinência, aumento da frequência urinária noturna). Ao crescer, o câncer de próstata pode acometer órgãos vizinhos, como a bexiga, ureteres ou reto, o que pode causar sintomas inespecíficos como dor pélvica, sangue na urina, inchaço escrotal, dor lombar e inchaço das pernas, quando os linfonodos da pelve e abdômen estão bastante comprometidos. A maioria das metástases ocorre nos ossos, principalmente na coluna, quadril e costelas, o que pode ocasionar dor localizada nestas áreas. Nos casos mais avançados, pode haver presença de fraqueza, falta de energia e de apetite, e mesmo anemia. Entretanto, esses sintomas são inespecíficos, podendo em muitas vezes estar relacionados a outras causas.
Causas: As reais causas do câncer de próstata ainda são desconhecidas. Entretanto, já se sabe que ele é originado de desequilíbrios genéticos que causam alterações moleculares responsáveis pelo seu desenvolvimento. Fatores ambientais podem estar também envolvidos, desencadeando ou acelerando esse processo.
Fatores de risco: Todos os homens apresentam risco potencial de desenvolver câncer de próstata quanto mais se vive, ou seja, quanto mais idoso, maior o risco. Muitas vezes, entretanto, a doença segue um curso indolente, não sendo diagnosticada. Alguns grupos apresentam maior risco para desenvolvimento da doença: aqueles com parentes de primeiro grau que tiveram a doença e os indivíduos da raça negra. Apesar de muitos fatores, como comportamento sexual, infecções por vírus ou bactérias e situação socioeconômica desfavorável, terem sido associados com o desenvolvimento da doença, não existem evidências sólidas que confirmem esta relação. Existe uma suspeita, ainda não confirmada, da associação de dietas ricas em gordura animal e obesidade com câncer de próstata mais agressivos.
Diagnóstico: Como inicialmente não há sintomas, é sugerido que todos os homens a partir dos 50 anos sejam avaliados anualmente através do toque retal e de dosagens sanguíneas de PSA, para o diagnóstico da doença. Aqueles com história de câncer de próstata na família (pai, irmãos, tios) e da raça negra devem iniciar essa avaliação aos 45 anos, devido ao maior risco associado. Nas fases mais avançadas da doença, o diagnóstico pode ser suspeitado pela presença dos sintomas já descritos.
Qual a utilidade do toque retal? O toque retal tem como finalidade detectar qualquer alteração na próstata (endurecimento, nódulos) que possa estar relacionada com a presença do câncer. Apesar de desconfortável, é parte fundamental da avaliação prostática, servindo também para auxiliar na decisão da melhor forma de tratamento, caso o câncer esteja presente.
Por que ainda há tanto preconceito e medo da realização do toque retal? Embora haja a percepção que esse simples exame é imprescindível à identificação do câncer de próstata na fase inicial, o toque ainda esbarra na desinformação e na cultura de dois terços dos homens brasileiros, que não se submetem ao teste. O procedimento deve ser encarado da mesma forma que um exame de boca, nariz ou ouvido. O toque não interfere na masculinidade de ninguém, pelo contrário, é sinal de que o homem está preocupado consigo e com seus familiares.
Prevenção: O termo “prevenir a doença”, quando utilizado, refere-se a uma série de medidas que visam na verdade a fazer um diagnóstico precoce da doença, detectá-la em estágios iniciais, o que aumenta muito as chances de cura – já que não há prevenção propriamente dita.
Tratamento: Dependerá do estágio da doença (localizado, localmente avançado ou avançado), da idade e das condições clínicas do paciente. Naqueles com doença inicial, localizada na próstata, incluem-se como opções a vigilância ativa (apenas acompanhar a evolução do quadro), a cirurgia (prostatectomia radical, ou seja, a retirada da próstata) e a radioterapia (externa ou braquiterapia). Nos casos de doença localmente avançada, cirurgia e radioterapia são as opções objetivando a cura do paciente.
Nos casos avançados, o tratamento tem intenção paliativa, podendo-se optar por terapia de ablação hormonal e quimioterapia, associadas ou não a procedimentos cirúrgicos para aliviar o fluxo urinário e medicações para proteção óssea.
Fonte: Sociedade Brasileira de Urologia e Dr. Lucas Nogueira (Belo Horizonte, MG)