No dia 16 de outubro de 1846, foi documentada a primeira intervenção cirúrgica realizada sob anestesia geral. Naquele dia, às 10 horas, no anfiteatro cirúrgico do Massachusetts General Hospital, em Boston, nos Estados Unidos, o cirurgião John Collins Warren realizou a extirpação de um tumor cervical de um jovem de 17 anos. O paciente foi anestesiado com éter pelo dentista William Thomas Green Morton, que utilizou um aparelho inalador por ele idealizado.
Antes, à exceção da China, onde se usava a milenar Acupuntura, os recursos utilizados para amenizar a dor no ato cirúrgico consistiam de extratos de plantas dotadas de ação sedativa e analgésica, além da hipnose e bebidas alcoólicas, o que não dispensava, evidentemente, a contenção do paciente.
No Brasil, segundo Lycurgo Santos Filho, a primeira anestesia geral com éter foi realizada em 25 de maio de 1847, no hospital Militar do Rio de Janeiro, pelo médico Roberto Jorge Haddock Lobo.
A segurança dos procedimentos anestésicos aumentou muito desde o primeiro experimento aos dias atuais. O melhor preparo dos médicos, o melhor conhecimento das doenças, o melhor preparo dos pacientes, a instituição regular das consultas pré-anestésicas, drogas mais seguras e monitorização adequada no intra-operatório e no período pós-anestésico são considerados os principais fatores que contribuíram para a drástica redução das complicações relacionadas às técnicas anestésicas.
Atualmente se incentiva o estabelecimento de uma relação médico paciente mais próxima com o Médico Anestesiologista, reconhecido fator de melhora da qualidade e consequente diminuição de complicações relacionadas ao ato anestésico.
O termo anestesia, de origem grega, quer dizer “sem sensibilidade”. É o estado de total ausência de dor durante uma operação, exame ou curativo.
Inicialmente restrita ao momento da cirurgia, a moderna Anestesia se caracteriza por seu caráter peri-operatório. A perioperatória é o ramo da medicina que cuida dos doentes no entorno do ato operatório. Antes da operação, a medicina perioperatória se preocupa em preparar o doente de modo adequado para a anestesia e a operação propriamente dita. Durante a operação, a medicina perioperatória é responsável pela manutenção das condições de homeostase do doente e por impedir que ele sinta dor, estresse e os desconfortos da operação, monitorizando seus sinais vitais, infundindo soro e sangue quando necessário, mantendo a sua temperatura e cuidando de sua integridade, nunca esquecendo que essa integridade é primariamente invadida pelo próprio ato operatório. Após o término da operação, a medicina perioperatória se preocupa com o controle da dor, das náuseas e vômitos, da realimentação; enfim, da recuperação do paciente.
A primeira fase de atuação do anestesista como médico perioperatório é o preparo do doente para a anestesia, também conhecido como avaliação pré-anestésica. É muito importante para o Médico Anestesiologista ter conhecimento amplo do paciente, antes do procedimento anestésico-cirúrgico, através de uma criteriosa avaliação, que deve ser feita alguns dias antes da anestesia. Para atingir tal objetivo, atualmente muitos serviços contam com o Consultório de Anestesia para poder realizar avaliação criteriosa com antecedência, com o objetivo de captar a confiança do paciente, determinar sua condição física, avaliar exames complementares, estimar o risco anestésico–cirúrgico, escolher a melhor medicação pré-anestésica e indicar a técnica anestésica mais adequada ao paciente e ao ato operatório.
Não é incomum o paciente relatar que seu temor não está relacionado com a cirurgia, mas sim com a anestesia, pois se no passado era difícil ter conhecimento sobre fatos relacionados com a medicina, hoje, com as informações apresentadas por toda a mídia e pela internet, os pacientes têm acesso a uma série de informações, muitas delas negativas, sobre a anestesia.
Neste aspecto, é muito importante a atuação do Anestesiologista, para elucidar e solucionar as dúvidas do doente, assegurando sua confiança e tornando a anestesia e a cirurgia menos assustadoras e assim diminuindo os estresses e as angústias que cercam qualquer intervenção cirúrgica.
Além de uma extensa interrogação, quando são investigadas as doenças pré-existentes, hábitos pessoais, cirurgias anteriores, possíveis alergias, medicações de que faz uso e a história de doenças familiares, deve ser realizado um exame físico minucioso do paciente e avaliação dos exames pré-operatórios que variam de acordo com o paciente e/ou cirurgia.
Este conjunto de ações favorecem um melhor planejamento anestésico, maximizando segurança, minimizando riscos. É importante a criteriosa anamnese do paciente, saber ouvir e respeitar seus temores, tentando solucioná-los através de um diálogo humano e elucidativo e nunca esquecer que a avaliação pré-anestésica é direito do paciente e dever do Médico Anestesiologista.
Vale salientar que o paciente tem o direito de escolher seu Anestesista. A operação é um trabalho em equipe e, quanto mais completa e integrada for essa equipe, maior é a garantia de sucesso.