A Prefeitura de Ribeirão Preto (SP) registrou 517 afastamentos de médicos da rede municipal de saúde de janeiro a julho deste ano, segundo dados fornecidos pela administração ao Jornal da EPTV por meio da Lei de Acesso à Informação.
O número representa uma média mensal de 73 licenças – o que inclui casos de maternidade e problemas de saúde diversos – diante de um quadro de 544 profissionais em todas as unidades.
A taxa de afastamento, de cerca de 15% do quadro funcional, é considerada alta pelos médicos, que a atribuem ao alto grau de estresse dos profissionais, expostos à sobrecarga de trabalho e à insegurança nos postos, alvos frequentes de assaltos.
“É mal distribuído o número de médicos em Ribeirão Preto. A grande maioria está no serviço particular, poucos estão no serviço público. Os poucos que sobram ficam sobrecarregados. Muita unidade de saúde tem três ou quatro vagas pra médicos abertas, das quais uma ou duas só estão ocupadas”, diz Helena Lugão, diretora do Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo.
Em resposta, a Secretaria Municipal de Saúde informa que o número está dentro da média prevista pela pasta e que o sistema dá conta da demanda de pacientes, porque há vários médicos que fazem hora extra.
O município informa ainda que 17 médicos se aposentaram entre janeiro e julho deste ano, mas ainda não foram repostos por problemas financeiros. “A Secretaria Municipal da Saúde está se reorganizando para reposição progressiva dos cargos vagos.”
Estresse na saúde
Helena Lugão afirma que a carga horária excessiva e as pressões psicológicas do dia a dia ocasionam a maioria dos afastamentos dos médicos e podem causar problemas sérios de saúde.
Questões pontuais como a violência nos postos de saúde de Ribeirão, segundo ela, somente agravam a situação. “Muitas vezes eles acabam pedindo afastamento por não darem conta dessa pressão e violência diária que tem acontecido”, diz.
Ela também menciona que novos profissionais de saúde não têm sido contratados no lugar daqueles que se aposentaram, o que repercute na carga horária dos médicos nas unidades.
“A população de Ribeirão Preto está crescendo, cresceu mais de 15% desde o último censo. No entanto, o número de médicos e profissionais de saúde em geral não cresceu acompanhando. A Prefeitura tem que contratar novos médicos, novos enfermeiros, auxiliares para que a nossa rede de saúde seja o suficiente para atender a população”, defende.
Para os casos mais previsíveis, como a expedição de licença maternidade, ela argumenta que a Prefeitura tem condições de fazer uma previsão e evitar desfalques.
“Isso é uma coisa que tem que estar dentro do planejamento da Secretaria da Saúde. Além de saber que o número de médicos é insuficiente pra demanda da população de Ribeirão Preto, que depende do SUS.”
Para José Sebastião dos Santos, professor da faculdade de medicina da USP de Ribeirão, e especialista em saúde pública, a falta de médicos gera problemas sérios para todo o sistema atendimento. “São profissionais que estruturam o serviço. Por exemplo: se faltou médico, dentista ou enfermeiro, toda a cadeia de produção fica prejudicada”, afirma.