Mais de 3 mil servidores, além do quadro de funcionários atual, são necessários para que todos os leitos dos hospitais estaduais de Santa Catarina sejam abertos, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Saúde Público Estadual e Privado de Florianópolis e Região (SindSaúde).
O Sindicato dos Médicos do Estado de Santa Catarina (Simesc) também afirma que faltam servidores nas unidades de saúde estaduais. A Secretaria de Estado da Saúde diz que faz processos seletivos para novas contratações.
Os dois sindicatos declaram que faltam principalmente técnicos em enfermagem. A necessidade desse tipo de profissional também é mencionada pela secretaria como a mais crítica entre os servidores que atuam nos hospitais.
“O maior problema é a falta de insumo, falta de funcionário de nível técnico”, afirma o presidente do Simesc, Vânio Cardoso Lisboa.
O que fazem os técnicos
O presidente do Simesc explica com mais detalhes o trabalho dos técnicos de enfermagem. “O técnico é quem bota o paciente na cama, mede pressão, pega veia, prepara o banho. Quem leva o paciente para o centro cirúrgico, recebe o paciente, arruma toda a sala, abre material. O médico vem para operar, o técnico acompanha, passa material para o médico, é o instrumentador. Acabou a cirurgia, o técnico tira o paciente da mesa, bota na maca, leva para o quarto, guarda o material [da cirurgia], esteriliza o material, prepara para o outro paciente”.
O Sindsaúde representa todos os trabalhadores da área (com exceção dos médicos), como técnicos de enfermagem, enfermeiros, nutricionistas, profissionais da cozinha, da higienização, entre outros. O diretor-jurídico diz que a quantidade de funcionários começou a cair em 2007. “Já chegamos a ter 16 mil servidores e de lá para cá o número só vem baixando”, afirmou o diretor-jurídico do Sindsaúde, Wallace Fernando Cordeiro.
Atualmente, há 9,5 mil servidores da saúde em atividade, segundo o Sindsaúde. O G1 pediu à Secretaria de Estado da Saúde quantos técnicos de enfermagem atuam nos hospitais estaduais e se esse número é suficiente para suprir a necessidades das unidades de saúde. Não houve resposta até a publicação desta notícia.
Médicos
Em relação aos médicos, o presidente do Simesc afirma que as faltas são “pontuais”. “Faltam dois ginecologistas, o governo vai lá e repõe. Temos um pouco de dificuldade na neonatologia, principalmente no Hospital Regional [de São José]”, explica. “Não existe uma falta crônica”, declara.
“A falta de médicos é coberta por processo seletivo, de maneira emergencial. A secretaria renova os médicos e não faz concurso nunca”, disse o presidente do Simesc.
Leitos fechados
Sobre os leitos fechados em hospitais, o secretário-adjunto da Saúde, Murillo Capella, disse no início do mês em entrevista ao Bom Dia Santa Catarina que o problema está relacionado à falta de pessoal. “Esse fato se deve a aposentadorias, licença-prêmio de pessoal… Falta de gente”. Segundo ele, são cerca de 100 leitos fechados na Grande Florianópolis.
Pacientes a mais
Além de impossibilitar a abertura de novos leitos, a falta de funcionários nas unidades de saúde também impacta no atendimento. Um técnico de enfermagem do Hospital Governador Celso Ramos, em Florianópolis, que não quis se identificar, afirma que, com número insuficiente de servidores, os funcionários precisam cuidar de pacientes graves juntamente com não graves.
“A indicação de semi-intensivo [semigrave] é de um funcionário para cada dois pacientes [semigraves]. Há casos de um servidor com um semi-intensivo e mais cinco pacientes não graves”, diz o técnico. Ele também afirmou que, com uma carga de trabalho maior, há mais ocorrências de adoecimento de funcionários e consequente afastamento.
A direção do Hospital Santa Teresa, em São Pedro de Alcântara, também na Grande Florianópolis, afirma que 19 técnicos em enfermagem atuam no local e que esse número não é suficiente. Como no caso desse hospital muitos pacientes precisam ser levados a outras unidades para algum procedimento específico, muitas vezes é preciso remarcar por falta de funcionários para fazer o acompanhamento.
A direção fez um pedido à secretaria para ter mais 20 técnicos em enfermagem na unidade. O Santa Teresa atende basicamente portadores de hanseníase e outras doenças dermatológicas e patologias clínicas.
Último concurso foi em 2012
O último concurso para a contratação de servidores para os hospitais estaduais em Santa Catarina ocorreu em 2012. Naquela época, o estado chamou médicos, assistentes sociais, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, dentistas, técnicos em enfermagem e de radiologia e imagem. Desde então, a Secretaria de Estado da Saúde promove processos seletivos para tentar suprir a demanda dos hospitais catarinenses.
A Secretaria de Estado da Saúde afirma que está com dois processos seletivos em aberto. Em ambos, está prevista a contratação de médicos para hospitais da Grande Florianópolis, de Joinville, no Norte do estado, e de Lages, na Serra.
Neste ano, foram lançados 50 editais desse tipo desde janeiro com o objetivo de contratar funcionários para locais como a emergência do Hospital Governador Celso Ramos e a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Infantil Joana de Gusmão, na capital.
Segundo a Secretaria, com os processos seletivos, as contratações são mais rápidas e ajudam a cobrir o déficit causado por aposentadorias.
Método de contratação é questionado
Os sindicatos questionam esse método. “O processo seletivo não é aquele que a gente espera que o estado faça. O profissional é contratado por prazo determinado. Além de ser menos criterioso, não dá segurança para a pessoa, depois de dois anos é demitido”, afirma o presidente do Simesc, Vânio Cardoso Lisboa.
Ambos os sindicatos acionaram o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) sobre os processos seletivos. O MPSC afirmou que existe uma ação que tramita desde 2008 na Justiça em relação à contratação de pessoas para adequação dos hospitais Florianópolis, Governador Celso Ramos, Infantil, Nereu Ramos, Regional de São José e Maternidade Carmela Dutra.
Nota mínima em seleções
Mesmo nos processos seletivos a secretaria enfrenta empecilhos na contratação. “O estado abriu processo seletivo recentemente. Seis mil candidatos se apresentaram para 536 vagas. Passaram 24 porque não conseguiram obter a nota mínima – cinco. Geralmente em concurso é seis e sete. Baixou para cinco”, disse o secretário-adjunto em entrevista ao Bom Dia Santa Catarina.
“Nem com cinco se conseguiu aprovar o número adequado de 536 em 6 mil. Nós vamos ter que fazer um outro processo seletivo, discutir a situação com formação de pessoal, porque sem pessoal ninguém consegue abrir leitos”, acrescentou o secretário-adjunto.