A falta de leitos faz com que pacientes que buscam atendimento no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, em Campinas (SP), permaneçam internados no corredor do Pronto-Socorro. Há casos de pessoas que esperam por dias, em cadeiras e sem estrutura adequada, por um quarto. Há relatos ainda de falta de alimentos para alguns doentes. A Prefeitura alega aumento na demanda e nega falta de materais.
Um produtor da EPTV, afiliada TV Globo, teve acesso aos corredores da unidade de saúde e registrou a situação precária. Uma funcionária contou que os problemas ocorrem há dois meses, desde um remanejamento feito pela prefeitura e a coordenação do hospital.
“Fecharam dois leitos da cirurgia, quatro leitos de um andar e cortaram as horas extras. Hospital não vive sem horas extras. Ou tem de contratar mais”, defende.
Nesta segunda-feira (31), um homem contou que espera, há dois dias no corredor, uma vaga no centro cirúrgico para retirada da pedra na visícula. Ele conta, no entanto, que já foi avisado que voltará para a cadeira após o procedimento.
“Falaram que eu tô internado, mas tô internado aqui (corredor). E daqui eu vou direto pra sala de cirurgia, fazer a cirurgia, e eles vão me mandar para cá de novo, porque não tem vaga nos quartos.”
Acompanhante de uma senhora de 75 anos, que deu entrada no hospital na noite do último domingo (30) e aguardava um quarto nesta segunda, reclamou da falta de estrutura. “Horrível, né. Só que eu não posso brigar com os médicos nem com a enfermeira, porque eles não têm culpa.”
Internada desde sábado (29) com dores na cabeça, uma jovem trouxe o travesseiro de casa e precisou sair do hospital em busca de comida.
“Nem medicação me deram hoje, ninguém perguntou se eu tô com dor. Não me deram almoço, eu que fui lá fora comprar. Eu pedi pra moça. A moça disse que ia trazer e não trouxe minha marmita”, lamentou.
“Fecharam a UPA Centro, outra UPA em um bairro. Todo esse pessoal que ficava nessa rede, vem para cá. É o único hospital porta aberta. A gente não pode recusar, deixar de atender. Por isso colocamos todo mundo pra dentro. Às vezes espera dois, tres, até sete dias no corredor. A situação está se agravando cada vez mais”, comentou uma funcionária.
Em nota, a Prefeitura informou que “o Hospital Municipal Dr. Mário Gatti trabalha em regime porta aberta. Por isso, recebe e atende todos os pacientes que procuram o serviço. A unidade hospitalar trabalha com classificação de risco, sempre priorizando os casos de urgência. Os Prontos-Socorros adulto e infantil realizam cerca de mil consultas por dia.”
Maior demanda
A administração defende que hospital é referência na região de Campinas e, desde o ano passado, registrou aumento de 30% na demanda em razão de pessoas que deixaram de ter planos de saúde. “Em Campinas, 60 mil pessoas deixaram de ter convênios; na Região Metropolitana de Campinas foram 130 mil”, destaca a nota.
A Prefeitura de Campinas explicou que para atender a demanda, a gestão do hospital criou uma série de medidas. “Entre elas, o bloqueio de áreas da unidade com casos de menor complexidade e o remanejamento de pessoas para áreas essenciais. Esse movimento é acompanhado diariamente pelos gestores, que determinam as prioridades de cada momento”.
Sobre o número de funcionários, informou que a unidade conta com 1.550 servidores. “Desde 2013, a Prefeitura de Campinas vem recompondo as equipes de saúde. Foram contratados mais de 2,5 mil pessoas para a área. No mesmo período, foram realizados 11 concursos e processos seletivos para a contratação de médicos.”
A nota destaca ainda que não procede a denúncia de falta de água nos bebedouros e nem de falta de materiais.
Fonte: G1 Foto: Decom