No primeiro semestre deste ano, a Unicamp aprovou a implantação de cotas étnico-raciais após um grande debate sobre a qualidade do ensino.
Na época, um professor da própria Faculdade de Ciências Médicas, Paulo Palma, fez declarações em Rede Socialcontra as cotas e disse que a implantação de cotas seria “trocar cérebros por nádegas”.
Por ironia do destino, uma pesquisa desenvolvida com dados da mesma Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, pela médica Gláucia de Oliveira Moreira (foto), mostra que os estudantes que recorreram ao Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (Paais), programa de bonificação implantado em 2005 que funciona parecido com um sistema de cotas, têm desempenho ao término do curso igual ao dos alunos que não tiveram o benefício.
A pesquisa de Gláucia comprova que o professor de medicina Paulo Palma emitiu opinião sem qualquer critério científico, além de frases de baixo nível e preconceituosas. A pesquisa também confirma com dados o que o historiador e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, Sidney Chalhoub, argumentou em relação ao falso discurso meritocrático que tenta combater as cotas.
Na pesquisa, os cotistas (ou beneficiários do Paais), apesar de apresentarem notas inferiores na prova do vestibular, ao longo da graduação fazem essa diferença desaparecer. “Durante o curso o desempenho dos dois grupos se equipara. No momento do exame para ingresso na Residência Médica, não há qualquer diferença entre eles”, afirma Gláucia Moreira.
Gláucia apresentou parte dos resultados do seu estudo na manhã de quinta-feira, 24, durante o seminário “Ações afirmativas no Ensino Superior: para quê e para quantos?”, organizado pelo Laboratório de Estudos de Educação Superior (LEES).
A pesquisadora explica que decidiu investigar a relação entre o Paais e o desempenho dos estudantes de Medicina porque o curso é o mais concorrido no vestibular da Unicamp, registrando em torno de 220 candidatos por vaga.
Foram considerados os alunos que se matricularam entre os anos de 2005 a 2008 e que concluíram o curso até 2013. O intervalo de confiança das análises estatísticas, segundo a médica, é de 95%.