O número de atendimentos realizados pela rede pública de saúde de Campinas já superou a demanda de todo o ano passado. Dados fornecidos pela Prefeitura apontam que a cidade registrou, até 31 de julho deste ano, 3,046 milhões de consultas, contra 2,325 milhões nos 12 meses de 2016. E a cidade já havia registrado um crescimento de 45% nos procedimentos entre 2015 e 2016.
Para o secretário de saúde de Campinas, Cármino de Souza, a crise econômica, o desemprego e a perda de planos de saúde explicam o aumento na demanda. “Eu confesso que nunca se imaginou um crescimento dessa ordem“, destacou.
Entre os dias 14 e 18 de agosto, a EPTV, afiliada da TV Globo, exibiu uma série de reportagens abordando os motivos da crise na saúde pública, e a difícil realidade das pessoas que precisam do serviço para sobreviver.
Filas e improvisos no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, a redução nonúmero de associados a planos de saúde, a falta de leitos de UTI na região de Campinas, problemas no atendimento de emergência e a falta de estrutura no Ouro Verde foram temas abordados nas cinco reportagens da série.
Apesar do aumento na demanda, Cármino defende que tem se esforçado para atender os pacientes que procuram a rede públicado do município. “Tenho certeza que estamos acomodando [atendendo] toda a região metropolitana e também pacientes de fora da região.“
Os números mostram um aumento expressivo nos atendimentos de especialidades e nos casos de urgência e emergência.
Especialidades
- 2015 – 124.560 atendimentos
- 2016 – 787.439 atendimentos
- 2017 – 1.173.020 atendimentos (até 31 de julho)
Urgência e Emergência
- 2015 – 457.336 atendimentos
- 2016 – 473.693 atendimentos
- 2017 – 1.093.223 atendimentos (até 31 de julho)
Na série veiculada pela EPTV, o Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, considerado de média e alta complexidade, padece diante de tamanha demanda. A instituição atende, em média, 1 mil consultas de pronto-socorro por dia e faz 600 cirurgias mensais. Entre pacientes e profissionais, a unidade recebe 120 mil pessoas por mês, sendo que 1,1 mil ficam internadas.
No entanto, a unidade tem filas que chegam a quatro horas no pronto-socorro. Além disso, o hospital conta com uma classificação de risco, que tem os níveis verde (pouca urgência), amarelo (urgente) e vermelho (muito urgente). O último deveria ter tempo máximo de espera de 10 minutos, mas, segundo um funcionário que não quis se identificar, isso não acontece com frequência.
“A classificação de risco no Hospital Mário Gatti foi implementada em 2012. A gente não conseguia classificar pelo menos 50% dos pacientes. Hoje, pela falta de funcionários, a gente classifica 20% ou 30%, mas tem dias que não tem como. Aí é por ordem de chegada. A gente sofre de ver o paciente no risco, mas não tem como, olhando, priorizar um ou outro”, disse.
Esforço, mas sem conforto
Cármino de Souza garante que todos que procurarem as unidades de saúde de Campinas serão atendidos. “Por mais pressionado que nós estejamos, não há omissão. Pode demorar, faltar conforto, mas omissão não há. Não existe isso. Nós sabemos nossa obrigação como profissional de saúde“, defende.
O secretário, no entanto, reconhece a necessidade de melhora da estrutura disponível à população. “Não se resolve esse problema sem melhorar, ampliar a estrutura. Mas isso você não faz da noite para o dia. É um planejamento de vários anos. Até 2019 a gente deverá ter uma estrutura muito ampliada para atender essa demanda“, promete.
Na lista de Cármino consta a inauguração da UPA Suleste, “pronta, viabilizando a parte de equipamentos e recursos humanos“, o que deve ocorrer ainda em 2017, sem precisar a data; e a concorrência para reformas do PS do Ouro Verde, que deve ser entregue em 2018, e do PS Metropolitano da Vila Padre Anchieta, previsto para ficar pronto em 2019. Os editais devem ser publicados em setembro.