O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) confirmou o envio de notificação ao Hospital Bom Jesus para que efetue a correção de problemas apontados em vistoria no prazo de 45 dias. Os fatos foram levantados em avaliação realizada em junho na casa de saúde e que concluiu pelo indicativo de interdição ética do hospital. A direção do Bom Jesus informou que está tomando as providências para responder ponto a ponto as situações apontadas pelo Cremers.
Em entrevista ao Jornal Panorama, na segunda-feira, o presidente do Cremers, Fernando Weber Mattos, explicou que a vistoria trata-se de um procedimento de rotina do Conselho, realizar o acompanhamento do funcionamento dos hospitais. Além disso, reclamações da comunidade e eventuais apontamentos do Ministério Público também podem acionar a fiscalização. No caso de Taquara, Matos disse que foram algumas reclamações e o procedimento rotineiro que motivaram a fiscalização. Destacou que o relatório completo das situações encontradas é sigiloso, portanto não seria divulgada a íntegra das questões encaminhadas à direção clínica e técnica do hospital.
Matos resumiu, no entanto, algumas das preocupações do Cremers no tocante ao Hospital de Taquara. Segundo ele, foram encontrados problemas como a equipe de saúde incompleta, precarização ou falta de equipamentos, deficiência no fornecimento de medicamentos e problemas na estrutura do Bom Jesus. Em julho, segundo o presidente do Conselho, foi enviado o relatório ao Hospital, com o prazo para as respostas, que devem ser encaminhadas item por item. Matos confirmou que o relatório concluiu pelo indicativo de interdição ética do exercício da medicina, mas ressaltou que este procedimento não é tomado de maneira inconsequente. A tendência atual, segundo Matos, se for decidida por alguma atitude mais forte, é de interdições parciais, procedimento que vem sendo adotado pelo Cremers em outros estabelecimentos que eventualmente tenham problemas. O presidente do Cremers destacou que o relatório também foi encaminhado ao Ministério Público de Taquara. Consultada a respeito por Panorama, a promotora de Justiça Ximena Cardozo Ferreira informou que recebeu o relatório e o anexou a investigação em andamento, mas não revelou mais detalhes a respeito.
A existência dos apontamentos do Conselho de Medicina foi divulgada pelo vereador Luis Felipe Luz Lehnen (PSDB) em seu pronunciamento no Legislativo e em entrevista ao programa Painel 1490, da Rádio Taquara. Lehnen disse não ter tido acesso à íntegra do relatório, mas defendeu que a Câmara deve, através de sua comissão de saúde, tomar conhecimento a respeito para providências.
Direção do Hospital apresentará defesa e ressalta: “nenhum paciente ficou sem atendimento”
A reportagem do Panorama procurou a direção do Hospital Bom Jesus para posicionamento a respeito do relatório do Cremers. Na semana passada, os diretores administrativo, Heleno Severo, e técnico, Carlos Henrique Bauermann, além de dois consultores do Instituto de Saúde e Educação Vida (ISEV) concederam entrevista. Ressaltaram que o Hospital está dentro do prazo para contestação da fiscalização, assegurando que o relatório será respondido em todos os seus pontos. Além disso, reforçaram que nenhum paciente ficou desassistido ou teve qualquer risco no atendimento junto ao Bom Jesus.
De acordo com Bauermann, o relatório do Cremers possui 88 páginas e diversos apontamentos, muitos deles sequer questionados quando da visita da equipe de auditoria do Conselho. “Estamos dentro do prazo de defesa, de juntada de documentos e de evidências para mostrarmos o nosso posicionamento”, ressaltou Heleno, acrescentando que, na semana passada, a direção local do Hospital teve encontro em Porto Alegre, com a assessoria jurídica do ISEV, a fim de debater a resposta a ser encaminhada.
A diretoria também se manifestou quanto aos apontamentos feitos pelo Cremers e divulgados ao Panorama. No tocante à suposta precarização da estrutura básica, Heleno e Bauermann ressaltam que o prédio do Bom Jesus é antigo, o que exige constantes reformas, algumas delas que têm sido feitas pelo ISEV. Destacaram que a maior prova do empenho do Instituto na melhoria da estrutura é a recente reforma completa feita na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Quanto à eventual falta de medicamentos, Bauermann reconheceu problemas pontuais relacionados a prazos de entregas. Mesmo assim, enfatizou que em nenhum momento os pacientes ficaram sem os remédios, uma vez que a equipe providenciou drogas de efeito semelhante ou buscou a compra emergencial. Ressaltou que, como medida para evitar estes sobressaltos, está sendo treinada a equipe em novo sistema de controle de estoque, com a informatização completa, inclusive controle mais rígido na dispensação, o que deverá evitar imprevistos. No tocante aos equipamentos do Bom Jesus, Bauermann reconhece que são antigos, mas destacou que todos passam pelas manutenções necessárias e o hospital sempre possui serviços de locação ou de terceirização nos períodos de consertos. Disse que a situação mais grave que vem sendo apontada diz respeito ao tomógrafo do hospital, que possui uma peça com defeito. Contudo, este item teve que ser comprado nos Estados Unidos e a chegada no Brasil demorou alguns dias, uma vez que a peça ainda se encontra nos trâmites aduaneiros.
Com relação à eventual deficiência no corpo clínico, com baixo número de médicos, Bauermann acrescentou que as escalas estão completas. Hoje, o hospital possui deficiência apenas em alguns dos horários de pediatria, devido à demissão de uma médica. Segundo o diretor, em função da escassez de médicos pediatra, tem sido difícil encontrar um profissional para suprir estes horários, mas ressaltou que o Bom Jesus continua à procura dos médicos. A ideia é contratar dois pediatras. “Mesmo assim, nenhuma criança fica sem atendimento, pois são encaminhadas para os clínicos de plantão”, acentuou Bauermann.
Fonte: Jornal Panorama
Foto: Arquivo/Panorama