Em Pernambuco, uma média de 1.500 novos casos de Aids é registrada por ano e, até março de 2017, o estado reunia 24 mil pessoas com a doença. Alguns pacientes com HIV têm enfrentado apreensão e dificuldades devido à falta de kits, que são distribuídos pelo Ministério da Saúde, para fazer o exame de carga viral, um teste importante para verificar se o tratamento está fazendo efeito.
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, depois do diagnóstico, que pode ser feito em postos de saúde, ONGs e centros de testagem e aconselhamento, os pacientes são encaminhados para os serviços de referência para serem acompanhados. “Fui ao laboratório do hospital para fazer os exames e lá foi comunicado que não havia kits para a realização do exame e mandaram a gente ficar ligando, mas já se passam dois meses sem muitas respostas”, relata um rapaz de 29 anos que prefere não ser identificado.
Em fevereiro deste ano, ele descobriu que tem HIV. Desde então, fez dois testes de carga viral. O terceiro seria em junho, mas este ele não pôde fazer. “A gente precisa fazer, quando está começando, periodicamente o exame, antes de começar a tomar o remédio, depois que começa para saber se está fazendo efeito. Eu só fiz duas vezes, mas é preciso fazer outras para eu ficar ciente que a carga viral está baixa para mudar os antirretrovirais ou continuar com o que eu estou”, explica.
O médico infectologista Demetrius Montenegro, que acompanha pacientes que receberam o diagnóstico, explica o quão fundamental é esse teste da carga viral. “É um exame para quantificar o vírus naquela pessoa que está tomando a medicação. A pessoa que toma remédio tem que ter a carga viral indetectável, isto é, não ter vírus no sangue. Se a gente consegue identificar vírus de 500, 1.000 ou 10.000, é preciso avaliar para saber o que houve de errado”, ressalta.
Para fazer o exame, é necessário um kit fornecido pelo Ministério da Saúde, que é distribuído para todos os estados. “Tem um aparelho onde faz a identificação do material genético do vírus e, para fazer isso, tem que colocar o sangue em algumas cápsulas com reagentes. Isso é o que a gente chama de kit e, sem ele, o exame não pode ser realizado”, explica Demetrius Montenegro.
Por causa do problema da falta de abastecimento dos kits em todo o Brasil, o Ministério da Saúde determinou que fossem priorizados os testes apenas nas grávidas e nas crianças de até um ano e seis meses. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, a última remessa do kit enviada a Pernambuco chegou no mês de junho.
Tratamento
No Recife, o Hospital Universitário Oswaldo Cruz, no bairro de Santo Amaro, e o Hospital Correia Picanço, na Tamarineira, são unidades de saúde onde pessoas com HIV podem fazer tratamento. Nas duas unidades de saúde, os pacientes têm acesso ao controle do vírus e ao combate a outras doenças que atingem os pacientes com HIV.
De acordo com os pacientes, se for feito de maneira particular, o teste de carga viral custa entre R$ 800 e R$ 1 mil. Segundo a coordenadora de programas institucionais da ONG Gestos, que oferece apoio a quem foi diagnosticado com HIV, a entidade ajuda os pacientes com assistência psicológica e jurídica.
“A gente estranha porque o Ministério da Saúde preconiza que é um direito do paciente e um dever do estado as questões relativas a testar e tratar. Testar significa que você está verificando se tem o HIV ou não e aí você precisa tratar. E tratar não é só receber a medicação, porque, para receber, você precisa dos exames. Então os exames também fazem parte do tratamento”, afirma Josineide Meneses.
Respostas
A Secretaria Estadual de Saúde informou que ainda tem estoque para fazer o teste de carga viral. De acordo com o Ministério da Saúde, foi finalizada uma nova compra de exames de carga viral para o HIV. O volume total do primeiro lote está previsto para ser distribuído a todos os laboratórios até sexta-feira (18) e a quantidade deve atender a demanda nos estados.