Em janeiro, pouco depois de assumir a Prefeitura de São Paulo, João Doria fez uma promessa ousada: zerar, em 90 dias, a fila de 450 mil exames médicos herdada da gestão passada. A missão até que foi concluída, mas, enquanto focou nas pendências do ano passado, o tucano deixou outros milhares de pessoas esperando, e uma nova fila se formou.
Acabar com a demora para a realização de exames de fato foi uma das prioridades da gestão Doria no início do mandato. Ainda no primeiro mês de governo, o prefeito fechou parceria com hospitais e laboratórios particulares e colocou em prática o programa batizado de “Corujão da Saúde”. Quem estava à espera passou, então, a ser chamado para fazer exames fora do horário comercial.
Considerando os seis exames mais pedidos (ultrassonografia, mamografia, tomografia, ecocardiograma, densitometria e ressonância), 450 mil exames estavam pendendentes na rede municipal em dezembro. Com o mutirão do “Corujão da Saúde”, o número logo caiu. Em 83 dias, a Prefeitura organizou os pedidos, fez as parcerias e acabou com a fila. Após o feito, no entanto, o ritmo de atendimentos caiu e ficou aquém das novas demandas.
A fila de 2017 cresce a cada mês, mesmo com as pendências de 2016 já zeradas. Eram 89 mil exames na espera em março, que passaram a 127 mil em abril e a 139 mil em maio. Caso siga neste ritmo, a Prefeitura terá, ao fim do ano, uma fila de mais de 300 mil exames por fazer, conforme levantamento feito pelo SP1 com base em dados do sistema Siga Saúde, da própria administração municipal.
“Durante janeiro, fevereiro, março e abril nós tivemos que fazer os exames, as solicitações do mês, e mais aqueles do passado. Então, houve um aumento. Por exemplo, hoje, qual é a fila de hoje? 103 mil”, justifica o secretário de Saúde, Wilson Pollara. Segundo ele, atualmente, o prazo máximo para realização de um exame é de 60 dias.
Consultas
Os pacientes da rede municipal, no entanto, não encontraram dificuldade apenas para realizar os exames. Aqueles que venceram esta fila, ainda têm de enfrentar outra: a de consultas. Devido à falta de médicos, milhares de pessoas têm os exames em mãos, mas não conseguem agendar horário para um profissional analisá-los e, assim, iniciar um possível tratamento.
Em 2016, após vencer as eleições, Doria projetava contratações para os quadros da Prefeitura. “A falta de especialistas e de médicos nos postos públicos municipais é bastante grave. Isso vai exigir a contratação de médicos com o orçamento existente a partir de janeiro para atuarem prioritariamente na periferia”, disse. Desde o início do mandato, porém, nenhum foi admitido.
Sem contratações, a fila por consultas só cresceu sob a gestão do tucano. Em dezembro do ano passado, eram 490 mil agendamentos pendentes. Em maio, o número já havia disparado para 651 mil, também de acordo com as informações do Siga Saúde. A diferença representa um crescimento de mais de 30%.
O secretário Pollara admite a falha. “Tenho que mudar isso aí. Nós estamos mudando”, ressaltou. Questionado sobre um possível prazo para reverter o cenário, ele estimou que “até o fim do ano”. Doria, por sua vez, repete reiteradas vezes desde a posse que assumiu a gestão municipal com um orçamento R$ 7,5 bilhões menor do que o esperado.