Centro de Referência DST/Aids de Campinas, em São Paulo, que já foi referência nacional para o tratamento da doença, está com falta de remédios e equipamentos para atender os pacientes. Na contramão da falta de investimentos, aumenta a procura pelo serviço – em média, são 30 novos casos de pessoas soropositivas na cidade a cada mês. De 1980 a 2015, o município registrou 8.140 pessoas com HIV, de acordo com dados da Prefeitura.
Perigo
O técnico em eletrônica João Lino Vendito convive com a doença há 25 anos, e destaca o perigo da falta de manutenção em locais essenciais para o tratamento.
“Tem infiltração, e salas que estão descascando, com mofo. E mofo, pra nós que somos portadores de HIV, nossa imunidade já é mais baixa, então qualquer coisa pode causar sérios problemas para os pacientes”, explica Vendito.
Remédios e equipamentos em falta
Na farmácia do local, é possível perceber que o problema é ainda mais grave. A funcionária fala uma lista de medicamentos que estão em falta. “Prednisona de 5mg… Ivermectina, Metronidazol, Captopril… Faz dois anos que o Estado não consegue comprar“, informa.
Remédios exclusivos que deveriam ser fornecidos pela Prefeitura também não estão disponíveis. “A rede não tem essa medicação“, diz a atendente sobre a vitamina Piridoxina.
O autoclave, um equipamento básico utilizado para esterilizar instrumentos médicos, não existe no centro. “Três anos que a gente tem que pedir pra mandar o material esterilizar em outro serviço e voltar […] É um transtorno”, afirma uma médica. Outra funcionária conta ainda que três dentistas estão sem trabalhar por falta de condições no consultório.
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Ajuda dos funcionários
Vendito ainda reclama da demora para agendar atendimentos, que é de cerca de três meses, além da falta de equipamentos básicos, que precisaram ser reformados com a contribuição dos próprios funcionários.
“Quando quebrou o ar-condicionado da sala de teste rápido, os funcionários tiveram que fazer uma vaquinha para mandar consertar o ar-condicionado, porque a Prefeitura não manda consertar. E essa sala, por exemplo, não pode ultrapassar os 25ºC lá dentro, porque já dá problema nos resultados, nos testes”, diz o paciente.
A professora aposentada Janice Pizon contraiu a doença há 30 anos, e hoje trabalha com o aconselhamento de novos pacientes. Para ela, o atendimento centralizado é uma forma de acolhimento mais eficiente aos portadores do HIV, o que hoje é deficitário em Campinas.
“Imagina eu, que estou com um problema de imunidade baixa, já tenho uma pneumonia instalada, vou para um médico em um espaço onde tem sujeira, bolor, onde o banheiro é um depósito de material. É muito difícil você buscar qualidade de saúde, quando o lugar onde você busca tratamento médico, é um lugar perigoso para você”, diz Janice.
Manutenções
Procurada pela EPTV, a diretora de Saúde de Campinas, Mônica Nunes, reconheceu as falhas encontradas no sistema, e alegou que a situação se agravou devido ao aumento no número de pacientes. Ela ainda afirmou que as questões levantadas por funcionários estão sendo trabalhadas.
Ela garantiu que não faltam medicamentos antirretrovirais, e que os outros remédios devem ser remanejados das unidades básicas de atendimento.
“Como a gente tem uma rede muito extensa, não tem naquele local, mas em outra unidade a gente encontra medicamento”, explica. “Por isso a gente deixa disponível no site da Prefeitura aonde a gente pode encontrar esse medicamento.”
Prazos
Mônica informou que os autoclaves estão sendo comprados, e estabeleceu um prazo para reduzir o tempo de espera das consultas. “No máximo em um mês, dois meses, essa demora vai estar sanada”, afirma.
A diretoria de Saúde de Campinas ainda confirmou que as cadeiras utilizadas pelos dentistas no centro de referência estão quebradas, mas que a Prefeitura está providenciando o conserto, e que as autoclaves devem chegar à unidade em até quatro meses.
Sobre os problemas na estrutura do prédio, a diretora disse que a Prefeitura está negociando os reparos com o dono do imóvel.
Em relação à vitamina B6, que é apenas encontrada na farmácia do centro, a administração informou que a compra está em processo de licitação.
O Governo de São Paulo admitiu que a situação dos medicamentos antirretrovirais é crítica, e que essa é uma questão de todo o estado.
A lista das unidades que oferecem os outros medicamentos pode ser acessada clicando aqui.
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