Mais de 100 variações de doenças compõem o câncer. O ponto em comum entre elas é o crescimento desordenado de células. Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontam que, apenas em 2017, mais de 600 mil casos serão registrados no Brasil.
Se não bastasse o temor provocado pelas doenças em si, o tratamento também é cercado de vários mitos, como no caso da quimioterapia, um dos principais recursos terapêuticos indicado no tratamento do câncer.
“As consequências da disseminação dos efeitos adversos experimentados por uma boa parte dos pacientes são negativas“, comenta o Secretário de Comunicação da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Claudio Ferrari.
Segundo o médico, muitos pacientes sofrem antecipadamente com perdas que talvez nem ocorram. “Por isso, a informação é um aliado fundamental, podendo evitar sofrimentos desnecessários“, complementa.
Para esclarecer alguns dos mitos que mais envolvem a quimioterapia, os especialistas da Sociedade reuniram esclarecimentos importantes:
1. O cabelo vai cair
A queda de cabelo (alopecia) vai depender fundamentalmente do tipo de medicamento que o paciente irá receber. Sempre é bom destacar que nem toda quimioterapia faz o cabelo cair.
Além disso, quando ocorre, a queda de cabelo se dá em diferentes graus, podendo ir de uma queda leve até a perda completa de todo o cabelo.
Os pacientes devem ter em mente que, mesmo quando a queda é completa, é inteiramente reversível. Os fios voltarão a nascer ao final do tratamento.
Recentemente, o uso de touca térmica para resfriar o couro cabeludo durante a infusão do medicamento, reduzindo os efeitos adversos, ganhou destaque na mídia.
Estudos vêm mostrando que esse recurso não prejudica a eficácia do tratamento, entretanto, os pacientes do SUS terão que esperar muito para ter acesso a essa tecnologia.
2. Náuseas e vômitos são frequentes
Eles são efeitos raros durante a quimioterapia e dependem de uma série de fatores, como o medicamento e a sensibilidade individual.
A dieta pode ser aliada no combate às náuseas, optando por bebidas e alimentos de fácil ingestão. A equipe médica pode ainda reajustar o tratamento prescrito, conforme o resultado da primeira sessão.
3. Sexo é proibido durante o tratamento
Durante o tratamento, é fundamental respeitar os eventuais limites do corpo para praticar sexo. Nem sempre a disposição para o sexo se mantém.
Um eventual impedimento à prática sexual durante a quimioterapia não significa impossibilidade de buscar intimidade e troca de afeto.
A paciente não deve estar grávida ao iniciar o tratamento e precisa adotar métodos contraceptivos eficazes antes de iniciá-lo.
Existe preocupação com o risco de que os medicamentos interfiram no desenvolvimento do embrião, especialmente durante o primeiro trimestre da gravidez, quando seus órgãos internos estão em formação.
4. A proximidade a animais de estimação durante o tratamento é proibida
A companhia dos pets pode ser muito importante durante o tratamento, podendo proporcionar aos pacientes benefícios, principalmente, do ponto de vista emocional, como melhora na autoestima e redução no stress.
É claro que há casos específicos, nos quais o afastamento se torna necessário, em função de um maior comprometimento do sistema imunológico.
5. Não se pode ir ao salão de beleza
Durante o tratamento, o paciente não precisa abrir mão de sua vaidade, especialmente, se o ajudar a se sentir melhor.
Sendo assim, ir ao cabelereiro não está proibido. Entretanto, durante esse período, é recomendável evitar a retirada de cutículas, pelo risco de inflamações e infecções que podem atrasar o tratamento.
Em relação ao uso de tinturas, não há contraindicações, desde que não causem irritação ou alergia.
6. O tratamento aumenta o peso
O ganho de peso varia de acordo com o medicamento utilizado durante o tratamento, pois nem todos têm efeito colateral.
Porém, caso ocorra, cabe ao oncologista acompanhar essa alteração e tomar as medicas cabíveis para evitar qualquer risco ao organismo.
Dentre as iniciativas, há o ajuste no tratamento, na alimentação e, dentro do possível, a recomendação de alguma atividade física. O apoio de um nutricionista é fundamental.
7. É preciso isolar-se durante o tratamento
Isso não é sempre necessário. Por exemplo, caso o tratamento seja composto por medicamentos que podem causar uma queda na contagem de glóbulos brancos no sangue, comprometendo a capacidade de resposta do organismo contra infecções, é comum que os pacientes sejam orientados a evitar aglomerados.
8. O tratamento deixa estéril
Alguns tratamentos realmente determinam um risco elevado de esterilização. Porém, atualmente, existem diferentes técnicas laboratoriais que podem preservar a fertilidade.
Dentre as alternativas está o congelamento de esperma, óvulos ou embriões. Um dos principais obstáculos é o tempo, pois nem sempre é possível atrasar o tratamento para colher o material.
Essa questão reforça a importância de manter uma rotina de exames, a fim de identificar a doença precocemente.