Assim como os especialistas que trabalham nos hospitais e em postos de saúde, os médicos e outros funcionários do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e Emergência (SAMU) precisam superar momentos de violência durante o exercício da profissão. Em um desses casos, no início deste ano, em janeiro, uma ambulância foi sequestrada, na Capital, e sete pessoas armadas abordaram o veículo e colocaram o corpo de um adolescente morto na viatura, ordenando que a equipe o levasse para algum hospital mais próximo. No final de junho, um veículo do SAMU foi atingido por um tiro, em Lajeado, na ação, bandidos resgataram um comparsa que estava dentro da ambulância. Outro caso marcante foi o apedrejamento de uma ambulância, em Bagé.
Não é de hoje que a rotina de trabalho desses profissionais está repleta de angustia e medo diante de tantas situações de violência. O médico FS que atende nos veículos do SAMU há 15 anos, mas prefere manter o anonimato com medo de represália, conta que o risco de violência é eminente mesmo que em algumas ocasiões a ambulância seja acompanhada pela Brigada Militar (BM). “Nós atendemos em vilas que têm situações de conflito, gangues rivais e isso aumenta a violência. Mesmo com o apoio da BM, o sentimento de medo é muito forte, pois a qualquer momento a situação pode sair do controle. Sei que alguns tiveram até arma apontada na cabeça. Eu sempre tenho receio de bala perdida”, relata o médico.
Um dos condutores do SAMU, Alessandro Rosa, também vivenciou situações de risco durante os atendimentos. Rosa conta que diante desses casos é necessário manter a calma e ter paciência para o diálogo. “A questão da violência é eminente, acabou se tornando quase que comum. Uma vez, na Vila Mário Quintana, cercaram a ambulância e mais de uma pessoa queria entrar no veículo junto com o paciente, o que não é permitido. Conversei e disse que não poderia ter mais de um acompanhante, que o nosso trabalho também é árduo e que na próxima vez teríamos que entrar no local com a Brigada Militar. Depois de muita conversa, saímos de lá”, conta.
O coordenador do SAMU Porto Alegre, Marcos Mottin, reconhece que a violência ocorre, mas não são casos rotineiros. “Já tivemos episódio de apedrejamento do veículo e também de ameaça da equipe com arma de fogo. Não me parece ser algo corriqueiro, mas às vezes ocorre e é um evento que, sem dúvidas, acaba marcando a vida do profissional”, destaca. Mottin relata que passou por momentos complicados. “Estávamos no meio de um confronto entre policiais e bandidos. Infelizmente, lidamos com essas situações de risco”, diz. Mottin, acrescentando que há lugares em que o SAMU, além de ser escoltado pela BM ou Guarda Municipal, só entra após autorização do chefe do tráfico.
Para a vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Maria Rita de Assis Brasil, uma alternativa para minimizar o problema, seria uma maior integração com os órgãos de segurança, além da valorização dos profissionais do SAMU. “Esses atendimentos pré-hospitalares são de auto-risco, pois lidam de uma maneira mais simples com a questão do stress, frente à possibilidade de morte do paciente por algum problema clínico, e também as tantas situações de violência que não terminam quando chegam às equipes do SAMU. Portanto, é preciso um trabalho articulado com as áreas de segurança, além da valorização do trabalho desses profissionais, inclusive de assegurar remunerações maiores por conta do risco de morte”, diz Maria Rita.
Um programa chamado POA em Ação, desenvolvido em parceria com o Centro Integrado de Comando da Cidade (CEIC) e a prefeitura, foi criado para tentar diminuir, também, esse problema enfrentado por profissionais do SAMU. Isso por que o sistema mapeia todo o serviço público da Capital, inclusive postos da Brigada e da Guarda Municipal, o que facilitaria o encontro das ambulâncias com as viaturas da polícia, em direção a locais conflagrados. Embora pronto, o programa ainda não foi integrado com o sistema do SAMU.