A violência que assola o Estado provocou o fechamento de mais uma unidade de saúde em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Pela segunda vez neste ano, o Pronto Atendimento (PA) da Vila Bom Jesus, zona leste de Porto Alegre, teve que fechar as portas devido a uma ocorrência. Com a superlotação no local – eram 28 pacientes para cinco leitos –, três funcionários foram agredidos verbalmente por uma acompanhante de paciente, que também tentou quebrar o vidro da recepção e uma televisão na madrugada de sexta-feira, 14 de julho. Por causa disso, os funcionários do posto decidiram atender apenas a casos graves.
Desde às 21 horas de quinta-feira, 13, a coordenação técnica do PA buscava uma solução junto a Central Municipal de Urgências (CMU), mas a partir da meia noite não obteve mais retorno. Pela manhã, o secretário adjunto da Secretaria Municipal de Saúde, Pablo de Lannoy, reuniu-se com a equipe de médicos, enfermeiros e profissionais. Entre eles estava o diretor do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Sul (Simers) e pediatra do posto, Fábio Gatti. Na reunião, Lannoy prometeu medidas para reforçar a segurança. Entre elas, a disponibilização de um telefone 24 horas para ajudar na solução de crises como essa.
Com a definição, onze pacientes foram transferidos para os hospitais Vila Nova e Beneficência Portuguesa. O PA Bom Jesus deverá ter seu atendimento normalizado assim que as transferências forem efetivadas e as condições de trabalho restabelecidas.
Insegurança é constante
Em fevereiro deste ano, o PA Bom Jesus foi fechado devido a um tiroteio ocorrido na rua em frente ao local. Uma das balas entrou pela janela e quase atingiu um profissional.
Com essa ocorrência – a segunda nesta semana em Porto Alegre –, o Simers contabiliza 21 casos de violência próximo ou dentro de unidades de saúde no Estado. Do total, onze foram em Porto Alegre. De 2014 a 2017, o Rio Grande do Sul contabiliza 83 casos de violência em unidades de saúde. Do total, 53 ocorreram na Capital.
O presidente do sindicato, Paulo de Argollo Mendes, lamenta mais um episódio e ressalta a urgência de ações nas esferas municipais e estadual que evitem violência nas unidades de saúde. “O médico, diariamente, entra no interior das comunidades mais conflitadas, desarmado, sem saber se voltará à noite para abraçar os filhos”, destaca Argollo.
UTI clandestina
O representante da entidade comentou a transformação do PA Bom Jesus em uma UTI clandestina. “Temos casos de pacientes graves, que deveriam estar em UTI, que ficam dias internados. No mês passado tivemos um paciente que ficou 17 dias internado aqui. O PA Bom Jesus não é hospital e, portanto, não tem UTI”, adverte Gatti. Entre os 28 pacientes que ocupavam o espaço que deveria receber no máximo cinco, estava um paciente há quatro dias na ventilação mecânica e outro há uma semana. Estes dois não estavam na lista dos 11 que começaram a ser transferidos nesta manhã para instituições de referência.
O Simers alerta para a necessidade do cumprimento das resoluções do Conselho Federal de Medicina que definem 24 horas como o período máximo de observação em unidades de pronto-atendimento.
Dificuldade para transferências e déficit de pessoal
Conforme a coordenação do PA Bom Jesus, a crise vivenciada desde a noite de quinta-feira, 13 de julho, é o resultado do encaminhamento de casos graves, que acabam retidos na unidade, pela regulação de leitos. Ao mesmo tempo, há dificuldade em transferir pacientes por falta de leitos de retaguarda. Há registros, inclusive, de hospitais que mandam doentes para a unidade. Outra circunstância agravante é o déficit de pessoal.
Há insuficiência de profissionais em todas as áreas:
13 clínicos gerais
3 pediatras
4 enfermeiros
9 técnicos em enfermagem
5 assistentes sociais
3 técnicos de Raio-X
1 assistente social
O titular adjunto da Saúde, Pablo de Lannoy, afirmou que a SMS está atenta as questões de falta de pessoal. Em relação as transferências, ele garantiu que o telefone a ser indicado para solução de crises deverá resolver o impasse.