Cada rim possui por volta de 1 milhão de minúsculos filtros, denominados néfrons. Quando parte dos néfrons é danificada por alguma doença (diabetes e hipertensão estão entre as principais causas), ela deixa de exercer sua função principal de filtragem e formação de urina e precisa ser compensada pelos demais.
O problema é que como esse tipo de lesão renal é progressiva e irreversível e os sintomas são silenciosos, mais de 70% dos pacientes que chegam a necessitar de diálise(tratamento que substitui a função dos rins) descobrem a insuficiência renal tardiamente. Dra. Carmem Tzanno, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, comenta que mesmo os médicos, numa consulta de rotina, se esquecem de pedir exames simples, porém fundamentais para um diagnóstico precoce, como o de urina e creatinina. “O brasileiro tem que criar o hábito de perguntar sobre o funcionamento dos seus rins”, esclarece a médica.
O recém publicado “Censo Brasileiro de Nefrologia 2016” aponta que atualmente mais de 120 mil pacientes estão em diálise no Brasil. Existem dois tipos de diálise: a hemodiálise (realizada numa clínica especializada de 3 vezes por semana) e a diálise peritoneal (feita diariamente na casa do paciente, normalmente no período noturno). Ambas terapias são fornecidas pelo SUS e pelos planos de saúde privados, mas ainda assim, a diálise peritoneal só é realizada por 8% da população com insuficiência renal, quando o preconizado pela OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) é que 20% dos pacientes com insuficiência renal tenham acesso ao tratamento. Apesar de representar economia de 5% aos cofres públicos, de acordo com recente levantamento realizado pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), essa ainda é uma terapia subutilizada pelo sistema de saúde.
Mas por que isso ocorre se, teoricamente, esse tratamento tem poucas contraindicações e traz, em termos práticos, maior conforto e liberdade ao paciente, que pode realizar a diálise em casa, enquanto dorme?
A dra. Tzanno explica que há algumas razões para que o tratamento seja pouco indicado e que podem dificultar o acesso a ele, como:
1) muitos centros nefrológicos e hospitais não têm equipes com capacitação necessária para realizar a diálise periotoneal;
2) a grande maioria dos pacientes descobre que irá necessitar de diálise em caráter de urgência, por isso normalmente já começa fazendo a hemodiálise tradicional nos centros de nefrologia, acostuma-se com o método e desenvolve resistência em mudar de tratamento. “A pessoa começa a se tratar com a hemodiálise, se dá bem e se sente confortável com o tratamento e acha que vai ser trabalhoso mudar”, completa.
Outra motivo da baixa adesão à diálise peritoneal é que as pessoas têm muito medo de fazer o tratamento em casa. “Por isso a necessidade de conscientização, até porque há muitos centros lotados e com falta de vagas para a realização da hemodiálise. É importante lembrar que, porém, antes de receber o aval da equipe técnica para fazer a diálise peritoneal, o paciente precisa ser avaliado e ele e mais um familiar precisam passar por um treinamento em clínica especializada.”
Por fim, há questões econômicas, pois os centros especializados costumam receber um reembolso maior pela hemodiálise em comparação à diálise peritoneal, já que a primeira exige uma equipe especializada e uma estrutura maior para ser realizada.
Entenda melhor as diferenças:
Pacientes com doença renal em estágio avançado precisam de diálise contínua ou de um transplante de rimpara sobreviver. Atualmente, há opções seguras de tratamento, como:
Hemodiálise: Bombeia o sangue através de uma máquina e um dialisador, para remover as toxinas do organismo. O sangue é limpo na máquina e devolvido ao corpo. Todo processo dura cerca de 4 horas e deve ser feito em média três vezes por semana, em uma clínica ou hospital especializados.
Diálise Peritoneal: Por meio da colocação de um cateter flexível no abdomên do paciente, é feita a infusão de um líquido semelhante ao soro fisiológico na cavidade abdominal. Esse líquido, chamado de banho de diálise, entra em contato com o peritônio (membrana porosa e semipermeável que reveste os principais órgãos abdominais), permanece por algumas horas na cavidade peritoneal, para que haja a troca entre a solução e o sangue, e então é drenado, juntamente com as toxinas que estavam acumuladas no sangue. O aparelho que faz esse processo se chama cicladora e fica na casa do paciente, que pode realizar o procedimento enquanto dorme.
Há máquinas mais modernas, que já vêm com um software acoplado que permite que médico acompanhe diariamente o tratamento do paciente. Entretanto, como essa é uma tecnologia nova, ela ainda não está disponível no SUS nem é oferecida pelos planos de saúde.