Os atendimentos à população na área da saúde, prioridade do prefeito João Dória, podem sofrer alterações significativas a partir de julho. A prefeitura vem elaborando o que chama de “reestruturação das redes de atenção à saúde”. Na prática, o plano sugere a junção entre UBSs com baixa procura a outras unidades e o fechamento dos Atendimentos Médicos Ambulatoriais (AMAs) que atendem emergências. Com isso, casos que poderiam ser resolvidos nos bairros terão de ir para os pronto-socorros dos hospitais, gerando ainda mais superlotação.
A CBN teve acesso ao documento elaborado pela Secretaria da Saúde. A prefeitura não utiliza o termo fechamento, mas fala em “adequação da rede”, “melhor utilização de recursos” e “reorganização a depender da necessidade de cada território”.
A prefeitura também não associa a reestruturação ao congelamento de 1 bilhão e 800 milhões de reais do orçamento da saúde, que é de 10 bilhões.
Para o presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo, é impossível melhorar o atendimento da saúde apenas com reorganização e sem novos investimentos. Eder Gatti cobra explicações concretas da prefeitura.
“A partir do momento em que você retira uma AMA que está integrada a uma UBS e a transforma apenas em UBS, se você não fizer qualquer incremento de investimento aí a gente pode dizer que a prefeitura está fechando. Como é que vai reestruturar a rede sem dinheiro? Aí a palavra reestruturação acaba se transformando em redução. É isso o que a prefeitura tem que responder“.
Na sexta-feira, 23 de junho, a secretária adjunta da Saúde, Maria da Glória Zenha, apresentou o plano ao Conselho Municipal da Saúde. Mas, a reunião terminou em bate-boca e a secretária deixou o local sem responder se haverá fechamento de unidades. Durante a apresentação, ela disse que as AMAs são caras e que muitas vezes não há demanda nas regiões.
“Ela custa mais caro, sim. Porque manter equipes de plantonistas é, no mínimo, 5 médicos e mais 2 ou 3 ou 4 enfermeiros que eu ponho por dia, que eu tô pagando. É caro! Então, quando eu falo no custo benefício, o atendimento é pequeno para tudo aquilo que se investe“.
A conselheira da saúde da região Norte, Mônica Silva, disse que a comunidade do Parque Anhanguera, na Zona Norte, está em pânico. Por lá, a informação é a de que a AMA local, uma luta de anos para a construção, será fechada.
“Tem chegado para todas as regiões a informação de que, com esse plano de reformulação que o prefeito está fazendo, vão fechar algumas unidades de AMAs e UBSs. Da nossa região aqui é o AMA Parque Anhanguera. É o único equipamento de saúde que temos na região e está na lista para ser fechado. Essa AMA atende 130 mil habitantes da região. A nossa luta não é para fechar, é para construir as obras que estão paradas“.
Entre os médicos que atuam nas unidades, o clima é de apreensão. Mariano Shiroma, que atua na Zona Oeste, disse que já circulam informações de bastidor na região de que haverá demissões e enxugamento da máquina.
“Estão informando que vão ocorrer mudanças, mas ninguém fala direito o que vai acontecer. Falam que a maioria das pessoas será demitida e que alguns poucos profissionais serão reaproveitados. O que a gente imaginou inicialmente é que criariam UPAs 24 horas para suprir a falta de AMAs. Mas não estamos vendo nenhum movimento nesse sentido, de construir ou alugar prédios“.
A reportagem da CBN pediu entrevista com a secretária adjunta da Saúde, Maria da Glória Zenha, autora da proposta, mas não foi atendida. Em nota, a prefeitura afirmou que não haverá fechamento de unidades e que qualquer afirmação sobre o tema é mera especulação.