Desde o início do mês, a emergência do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) funciona sem médico de plantão aos sábados, domingos e segundas. São três dias seguidos só com profissionais de enfermagem repetindo a medicação prescrita pelo médico plantonista da sexta-feira anterior. Após a morte de uma paciente, o setor foi fechado nesta segunda-feira para novos atendimentos. Mas, lá dentro, cerca de 40 pessoas internadas lutam para sobreviver até o plantão de hoje.
Maria Elizete Vanderley da Silva, de 77 anos, internada na manhã do dia 4, domingo, não resistiu. Morreu na madrugada seguinte, sem socorro médico.
— Negaram atendimento no domingo de manhã, alegando não haver médico na emergência. Ela estava desfalecendo e decidiram chamar um médico que estava em outro prédio — relatou o genro, o motorista Sérgio Henrique Dias, de 41 anos.
Com suspeita de hemorragia digestiva, a paciente foi internada e intubada pelo médico do plantão geral, que atende intercorrências nas enfermarias, cerca de 300 leitos.
— Às 19h, ao fim do seu plantão, o profissional foi embora. Não há rendição domingo à noite. À 1h de segunda-feira, dia 5, a paciente sofreu parada cardiorrespiratória. Sem médico na emergência nem no plantão geral, Maria Elizete morreu diante de profissionais de enfermagem que, por lei, não podem ministrar medicação por conta própria — disse um funcionário que não quis ser identificado.
O óbito só foi contatado por volta das 9h do dia 5, pelo médico que havia chegado para o plantão geral. Durante oito horas, apesar de a enfermagem ter verificado a morte, a paciente ficou no leito, ligada a aparelhos.
— Os aparelhos só podem ser desligados após um médico constatar o óbito — explicou um funcionário.
Segundo Júlio Noronha, chefe da emergência do HFB, desde janeiro, quando o Ministério da Saúde deixou de renovar os contratos temporários dos médicos, começaram a faltar plantonistas na emergência e no hospital como um todo.
— Cerca de 55% da mão de obra do Bonsucesso é formada por temporários. Dessa forma, as equipes foram ficando desfalcadas. Desde o começo de abril, estamos sem clínicos no plantão de domingo. Este mês, esse problema se estendeu para outros dias, aos sábados e às segundas-feiras. Nesses casos, temos que contar com o clínico do plantão geral, que atende intercorrências em todas as enfermarias do hospital, mas não há plantonistas todos os dias — relata Noronha.
Segundo ele, o Ministério da Saúde afirma que o HFB tem 139 clínicos gerais na emergência. Noronha garante que esse dado está errado.
— Muitos clínicos foram transferidos para o plantão geral e para as enfermarias. Hoje, temos 26 clínicos para atender de segunda a segunda na emergência. Tirando os que estão de férias, teríamos 22, ou seja, três por dia. Mas, na prática, não conseguimos fazer essa distribuição porque muitos médicos já estão comprometidos em outros plantões aos fins de semana — diz o chefe da emergência.
Por meio de nota, a direção do Hospital Federal de Bonsucesso respondeu apenas que “não houve determinação de fechamento da emergência”.